terça-feira, 31 de maio de 2011

MIKHAIL BAKUNIN: Sociólogo e Filósofo Russo (1814/1876 )



“Estamos convencidos de que o pior mal, tanto para a humanidade quanto para a verdade e o progresso, é a Igreja. Poderia ser de outra forma? Pois não cabe à Igreja a tarefa de perverter as gerações mais novas e especialmente as mulheres? Não é ela que, através de seus dogmas, suas mentiras, sua estupidez e sua ignomínia tenta destruir o pensamento lógico e a ciência? Não é ela que ameaça a dignidade do homem, pervertendo suas ideias sobre o que é bom e o que é justo? Não é ela que transforma os vivos em cadáveres, despreza a liberdade e prega a eterna escravidão das massas em benefício dos tiranos e dos exploradores? Não é essa mesma Igreja implacável que procura perpetuar o reino das sombras, da ignorância, da pobreza e do crime? Se não quisermos que o progresso seja, em nosso século, um sonho mentiroso, devemos acabar com a Igreja.”
— Mikhail Bakunin

terça-feira, 17 de maio de 2011

Richard Dawkins: Militante do Ateismo

BERTRAND RUSSELL


“As pessoas dirão que, sem os consolos da religião, elas seriam intoleravelmente infelizes. Tanto quanto este argumento é verdadeiro, também é covarde. Ninguém senão um covarde escolheria conscientemente viver no paraíso dos tolos. Quando um homem suspeita da infidelidade de sua esposa, não lhe dizem que é melhor fechar os olhos à evidência. Não consigo ver a razão pela qual ignorar as evidências deveria ser desprezível em um caso e admirável no outro.”
— Bertrand Russell

sábado, 14 de maio de 2011

” Não acreditar em deus é um atalho para a felicidade” Sam Harris


Em novo livro, o filósofo e neurocientista americano sam harris propõe a criação de uma ‘ciência da moralidade’ para acabar de uma vez por todas com a influência da religião. marco túlio pires

“A tolerância à intolerância nada mais é do que covardia”
“Na ciência não existem dogmas. Qualquer afirmação pode ser contestada de maneira sensata e honesta”
“O Papa é culpável pelo escândalo do estupro infantil dentro da Igreja Católica” Sam Harris
Neurocientista Sam Harris
Quando o filósofo americano Sam Harris soube que o atentado ao World Trade Center em Nova York (Estados Unidos), no dia 11 de setembro de 2001, teve motivações religiosas, a briga passou a ser pessoal. Harris publicou em 2004 o livro A Morte da Fé (Companhia das Letras) — uma brutal investida contra as religiões, segundo ele, responsáveis pelo sofrimento desnecessário de milhões. Para Harris, os únicos anjos que deveríamos invocar são a ‘razão’, a ‘honestidade’ e o ‘amor’.
“A Ciência é capaz de dizer o que é certo e o que é errado”, diz Sam Harris

Ao entrar de cabeça em um assunto tão delicado, o filósofo de 43 anos conquistou uma legião de inimigos e deu início a uma espécie de combate literário. Em resposta à repercussão de seu primeiro livro, que levou à publicação de livros-resposta sob as perspectivas muçulmana, católica e outras, os ataques de Harris à fé religiosa continuaram em 2006, com o lançamento do livro Carta a Uma Nação Cristã (Companhia das Letras).
Criado em um lar secular, que nunca discutiu a existência de Deus e nunca criticou outras religiões, Harris recebeu o título de Doutor em Neurociência em 2009 pela Universidade da Califórnia (Estados Unidos). A pesquisa de doutorado serviu como base para seu terceiro livro, lançado em outubro de 2010: The Moral Landscape (sem edição brasileira). Nele, Harris conquista novos inimigos, dessa vez cientistas.
Agora, Harris tenta utilizar a razão e a investigação científica para resolver problemas morais, sugerindo a criação do que ele chama de “ciência da moralidade”. Ele afirma que o bem-estar humano está relacionado a estados mentais mensuráveis pela neurociência e, por isso, seria possível investigar a felicidade humana sob essa ótica — algo com que a maioria dos cientistas está longe de concordar.
A ciência da moralidade substituiria a religião no papel de dizer o que é bom ou mau. Esse ‘novo ateísmo’ rendeu a Harris e outros três autores proeminentes — Daniel Dennet, Richard Dawkins e Christopher Hitchens — o título de ‘Cavaleiros do Apocalipse’.
Em entrevista ao site de VEJA, Harris explica os pontos mais sensíveis de sua argumentação, e afirma que descrer de Deus é um atalho para a felicidade.
Por que a moralidade e as definições do bem e do mal não deveriam ser deixadas para a religião? 
O problema com relação à Religião é que ela dissocia as questões do bem e do mal da questão do bem-estar. Por isso, a religião ignora o sofrimento em certas situações, e em outras chega a incentivá-lo. Deixe-me dar um exemplo. Ao se opor aos métodos contraceptivos, a doutrina da Igreja Católica causa sofrimento. É coerente com seus dogmas, embora eles levem crianças a nascerem na pobreza extrema e pessoas a serem infectadas pela aids, por fazerem sexo sem camisinha. Através das eras, os dogmas contribuíram para a miséria humana de maneira tremenda e desnecessária.
Nem toda moralidade é baseada em religião. Existe uma longa tradição de pensamento moral secular por meio da filosofia. O que há de errado com essa tradição? 

Não há nada de errado com ela a não ser o fato de que a maior parte das discussões filosóficas seculares são confusas e irrelevantes para as questões importantes na vida humana. Deveria ser consenso o apreço ao bem-estar humano. Se alguma coisa é má, é porque ela causa um grande e desnecessário sofrimento ou impede a felicidade das pessoas. Se alguma coisa é boa, é porque ela faz o contrário. Mas existem filósofos seculares batendo cabeça em debates entediantes, dizendo que não podemos falar de verdade moral. Segundo eles, cada cultura deve ser livre para inventar seus ideais morais sem ser perturbado por outros. Isso é loucura. Hoje reconhecemos que a escravidão, que era praticada por muitas culturas, era fonte de sofrimento. Nesse caso, deixamos para trás o relativismo. Por que não podemos fazer o mesmo em outros casos?
Você parece sugerir que a tolerância a outros credos não é uma virtude, como a maioria pensa. Por quê

É um posicionamento inicial muito bom. A tolerância é a inclinação para evitar conflito com outras pessoas. É como queremos que a maioria se comporte a maior parte do tempo quando se depara com diferenças culturais. Mas quando as diferenças se tornam extremas e a disparidade na sabedoria moral se torna incrivelmente óbvia, então, a tolerância não é mais uma opção. A tolerância à intolerância nada mais é do que covardia. Não podemos tolerar uma jihad global. A ideia de que se pode chegar ao paraíso explodindo pessoas inocentes não é um arranjo tolerável. Temos que combater essas coisas por meio da intolerância às pessoas que estão comprometidas com essa ideologia. Não acredito que seria possível sentar à mesa com, por exemplo, Osama Bin Laden e convencê-lo que a forma como ele enxerga o mundo é errada.
Por que a ciência deveria ditar o que é certo e o que é errado? 

Temos que reconhecer que as questões morais possuem respostas corretas. Se o bem-estar humano surge a partir de certas causas, inclusive neurológicas, quer dizer que existem formas certas e erradas para procurar a felicidade e evitar a infelicidade. E se as respostas corretas existem, elas podem ser investigadas pela ciência. Chamo de ciência o nosso melhor esforço em fazer afirmativas honestas sobre a natureza do mundo, tendo como base a razão e as evidências.
O que é a ciência da moralidade e o que ela quer conquistar? 

É a ciência da mente humana e das variáveis que afetam a nossa experiência do mundo para o bem ou para o mal. Ela pretende discutir, por exemplo, o que acontece com mulheres e garotas que são forçadas a utilizarem a burca [vestimenta muçulmana que cobre todo o corpo da mulher]. São efeitos neurológicos, psicológicos, sociológicos que afetam o bem-estar dos seres humanos. Com a burca, sabemos que é ruim para as mulheres e para a sociedade. Se metade de uma sociedade é forçada a ser analfabeta e economicamente improdutiva, mas ter quantos filhos conseguir, fica óbvio que essa é uma estratégia ruim para construir uma população que prospera. O objetivo é entender o bem-estar humano. Assim como queremos fazer convergir os princípios do conhecimento, queremos que as pessoas sejam racionais, que avaliem as evidências, que sejam intelectualmente honestas e que não sejam guiadas por ilusões. A Ciência da Moralidade pretende aumentar as possibilidades da felicidade humana.
O senhor afirma que há um muro dividindo a ciência e a moralidade. No que ele consiste? 

Existem razões boas e ruins para a existência desse muro. A boa é que os cientistas reconhecem que os elementos relevantes ao bem-estar humano são extremamente complicados. Sabemos muito pouco sobre o cérebro, por exemplo, para entender todos os aspectos da mente humana. A ciência espera um dia responder essas questões e isso é muito bom. A razão ruim é que muitos cientistas foram confundidos pela filosofia a pensar que a ciência é um espaço sem valores. E a moralidade está, por definição, na seara dos valores. Esse muro não será destruído enquanto não admitirmos que a moralidade está relacionada à experiência humana, que por sua vez está relacionada com o cérebro e com a forma pela qual o universo se apresenta. Ou seja, por elementos que podem ser investigados pela ciência.
Quais avanços científicos lhe fazem pensar que, agora, a moralidade pode ser tratada a partir do ponto de vista do laboratório? 

Temos condição de dizer quando uma pessoa está olhando para um rosto, ou uma casa, ou um animal, ou quais palavras ela está pensando dentro de uma lista. Esse nível cru de diferenciação de estados mentais está definitivamente ao alcance da ciência. Sabemos quando uma pessoa está sentindo medo ou amor. Por causa disso podemos, em princípio, pegar uma pessoa que diz não ser racista, colocá-la em um medidor e verificar se ela está falando a verdade. Não apenas isso, podemos descobrir se ela está mentindo para si mesma ou para as outras pessoas. A tecnologia já chegou a esse nível, mas não conseguimos ler a mente das pessoas com detalhes. É possível que futuramente possamos descobrir coisas sobre a nossa subjetividade de que não temos consciência, utilizando experimentos científicos. E isso tudo se relaciona ao bem-estar humano e o modo como as pessoas ficam felizes e como poderemos viver juntos para maximizar a possibilidade de ter vidas que valham a pena.
Por que deveríamos confiar a educação dos nossos filhos aos valores científicos? 

Os cientistas não se transformariam, com o tempo, em algo como padres, mas com uma ‘batina’ diferente? Cientistas não são padres. Os médicos, por exemplo, agem sob o pensamento da medicina, que, como fonte de autoridade, não se tornou arrogante ou limitou a liberdade das pessoas de maneira assustadora. É uma disciplina que está concentrada em entender a vida humana e minimizar o sofrimento físico. Seu médico nunca vai até você ‘pregar’ sobre os preceitos da ciência, você vai até ele quando precisa. Pais que se deixam guiar por dogmas religiosos não dão remédios aos filhos e os deixam morrer. Na ciência não existem dogmas. Qualquer afirmação pode ser contestada de maneira sensata e honesta.
O que dizer dos experimentos neurológicos que sugerem que a crença religiosa está embutida nos nossos cérebros? 

Não acho que a crença religiosa esteja embutida no cérebro humano. Mas digamos que esteja. Façamos um paralelo com a bruxaria. Pode ser que a crença em bruxaria estivesse embutida em nossos cérebros. A bruxaria matou muitos seres humanos, assim como a religião. Todas as culturas tradicionais acreditaram em algum momento em bruxas e no poder de magia e, na verdade, a crença na reza possui um conceito semelhante. Algumas pessoas dizem que sempre acreditaremos em bruxas, que a saúde humana será afetada pela ‘magia’ de vizinhos. Na África, muitas pessoas realmente acreditam em bruxaria e isso é terrível porque causa sofrimento desnecessário. Quando não se entende porque as pessoas ficam doentes, ou porque as crianças morrem antes dos três anos, você está num estado de ignorância que a crença em bruxaria está suprindo uma necessidade de maneira nociva. Superamos isso no mundo desenvolvido por causa do avanço da Ciência. Sabemos como a agricultura é afetada, por exemplo. Entendemos os fenômenos meteorológicos e a biologia das plantas. Não é algo que a religião resolve, e sim a ciência. Mas costumava ser assim. A crença na regência de um deus sobre a lavoura era universal.
As pessoas deveriam parar de acreditar em Deus? 

Se eu acho que as pessoas deveriam parar de acreditar no Deus da Bíblia? Com certeza. Da mesma forma que as pessoas pararam de acreditar em Zeus, em Thor e milhares de deuses mortos. O Deus da Bíblia tem exatamente o mesmo status desses deuses mortos. É um acidente histórico estarmos falando dele e não de Zeus. Poderíamos estar vivendo num mundo onde os suicidas muçulmanos se explodiriam por causa de ideias dos deuses do Monte Olimpo. A diferença entre xiitas e sunitas muçulmanos é a mesma diferença entre seguidores de Apolo e seguidores de Dionísio.
O senhor sempre foi ateu? 

Nunca me considerei um ateu, nem mesmo ao escrever meu primeiro livro. Todos somos ateus em relação a Zeus e Thor. Eu era um ateu em relação a eles e ao deus de Abraão. Mas nunca me considerei um ateu, como a maioria das pessoas não se considera pagã em relação aos deuses do Monte Olimpo. Foi no 11 de setembro de 2001, dia do atentado ao World Trade Center em Nova York, que senti que criticar a religião publicamente havia se tornado uma necessidade moral e intelectual. Antes disso eu era apenas um descrente. Eu nunca havia lido livros ateus, ou tivera qualquer conexão com a comunidade ateísta. O ateísmo não é um conceito que considere interessante ou útil. Temos que falar sobre razão, evidências, verdade, honestidade intelectual — todas essas coisas são virtudes que nos deram a ciência e todo tipo de comportamento pacífico e cooperativo. Não é preciso dizer que você é contra algo para advogar em favor da honestidade intelectual. Foi justamente isso que destruiu os dogmas religiosos.
O senhor cresceu em um ambiente religioso? 

Cresci em um ambiente completamente secular, mas não havia crítica às religiões ou discussões sobre ateísmo, existência de Deus etc. Quando era adolescente, fiquei muito interessado em religiões e experiências religiosas. Coisas como meditação, por exemplo. Aos vinte, comecei a estudar espiritualidade e misticismo. Ainda me interesso por essas coisas, mas acho que, para experimentar, não precisamos acreditar em nada que não possua evidencias suficientes.
Como o senhor se sente em ser rotulado como um dos ‘Quatro Cavaleiros do Apocalipse’? 

Estou muito feliz com a companhia! É uma honra. A associação não me desagrada de forma alguma. Acho que os quatro lucraram por terem sido reunidos e tratados como uma pessoa de quatro cabeças. Em alguns momentos é um desserviço porque nossos argumentos não são exatamente os mesmos e não acreditamos nas mesmas coisas em todos os pontos. Mas tem sido útil sob o ponto de vista das publicações e admiro muito os outros cavaleiros — os considero mentores e amigos. A parte do apocalipse tem um efeito cômico.
Se o senhor tivesse a chance de se encontrar com o Papa para um longo e honesto bate-papo, qual seria sua primeira pergunta? 

Gostaria de falar imediatamente sobre o escândalo do estupro infantil dentro da Igreja Católica. Acho que o Papa é culpável por tudo que aconteceu. A evidência nesse momento sugere que ele estava entre as pessoas que conseguiram fazer prolongar o sofrimento de crianças por muitos anos. Acho que ele trabalhou ativamente para proteger a Igreja do constrangimento e no processo conseguiu garantir que os estupradores tivessem acesso às crianças por décadas além do que deveria ter sido. O Papa deveria ser diretamente desafiado por causa disso. Contudo, é algo que seu status como líder religioso impede que aconteça. Ele nunca seria protegido dessa forma se ele estivesse em qualquer outra posição na sociedade. Imagine o que aconteceria se descobrissem que o reitor da Universidade de Harvard [uma das universidades americanas mais respeitadas do mundo] tivesse permitido que empregados da universidade estuprassem crianças por décadas e ele tivesse mudado essas pessoas de departamento para protegê-las da justiça secular? Ele estaria na cadeia agora. E isso é impensável quando se fala do Papa. Isso acontece por que nos ensinaram a tratar a religião com deferência.
Fonte : Site Revista Veja

quarta-feira, 11 de maio de 2011

Árvore Filogenética da Evolução do Homem

Note-se que o chimpanzé não se configura como descendente do homem, mas ambos têm ancestrais comuns.

quinta-feira, 5 de maio de 2011

SELEÇÃO NATURAL CÓSMICA



 

Físico aplica a teoria da seleção natural para tentar explicar a origem do Universo.

O Universo Fértil ou também chamada Seleção Natural Cósmica é uma idéia desenvolvida por Lee Smolin, físico norte americano, que sugere que as regras da Biologia se aplicam também ao universo em grande escala. Segundo essa teoria buracos negros podem gerar um novo universo em outra região do Multiverso e que esse novo universo pode possuir propriedades parecidas com às do universo que o criou, como uma forma de "herança genética". Os universos bebês por sua vez poderiam ou não produzir buracos negros que também criariam outros universos... quanto mais buracos negros um universo produzir tantos mais "filhos" ele terá, por outro lado universos pobres de buracos negros teriam poucos "filhos" antes de sofrer uma "morte térmica" e outros até atingiriam a morte térmica sem ter "gerado" nenhum universo. Por esse processo podemos
vislumbrar um multiverso repleto de universos com buracos negros e poucos sem eles. Isso é uma
forma de seleção natural. Essa teoria é interessante por ajudar a responder porque nosso universo é do jeito que é - estudando a origem, a formação e o desenvolvimento do nosso
universo parece haver uma "conspiração cósmica" para criar um mundo capaz de produzir vida, e
talvez, vida inteligente. Com a nova abordagem, que é altamente especulativa, que fique claro, o
universo em que vivemos não é "especialmente projetado" para nos abrigar, ele é somente mais
um entre tantos outros que, por suas propriedades, pode produzir buracos negros, muitos deles... e essas mesmas propriedades são as que permitem a formação de sistemas estelares, planetas sólidos, água, complexas moléculas orgânicas e finalmente vida. O que diriam os "pais" da seleção natural, Darwin e Wallace, dessa extrapolação ?

Fonte:
 Blog

Evolução da evolução



Uma idéia simples resolveu o mais complexo dos mistérios: o sentido da vida. Agora cientistas usam Darwin para desvendar mistérios maiores: da mente à origem do Universo. E o que eles encontraram é assustador

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Por Alexandre Versignassi e Rodrigo Rezende*
Revista Superinteressante - 06/2007
E Charles Darwin criou o homem. Ou, pelo menos, inventou o que hoje nós conhecemos como homem. Antes dele, éramos o centro do Universo, a obra sublime da criação. Agora somos apenas mais uma entre milhões e milhões de espécies, um bicho de origem nada especial.
Nada mesmo: a Teoria da Evolução deixou claro que todas as formas de vida que já pisaram na Terra são filhas da mesma tataravó - a história de como essa senhora, uma simples molécula, virou tudo o que existe hoje você vê.
Assim, mostrando como a vida evolui, Darwin dispensou Deus do cargo de criador. E agora seus seguidores do século 21 querem fazer algo ainda mais chocante: mostrar que não passamos de escravos a serviço dos verdadeiros donos deste planeta. Ah, tem mais: a teoria de Darwin pode ter desvendado o segredo dos buracos negros. E mostrado não só que deve haver vida fora da Terra mas em universos paralelos também. Quer saber como? Então vamos embarcar no velho Beagle. Primeira escala: o inferno.
O INFERNO DE DARWINO solo repleto de lava negra estava coberto de lagartos e tartarugas monstruosas. Caranguejos escarlates corriam por todos os lados. O calor era tão forte que atravessava as botas e queimava os pés.
Cercado por uma vegetação composta de cactos de 3 metros de altura, girassóis do tamanho de árvores e arbustos desfolhados, Darwin escrevia em seu diário: "A superfície seca e crestada, aquecida pelo sol do meio-dia, deixava o ar abafado, quente como em um forno. Tínhamos a impressão de que até os arbustos cheiravam mal".
"Esse lugar é o inferno!", dizia Robert FitzRoy, capitão do navio de pesquisas Beagle, que levara o jovem Charles Darwin às Galápagos, um arquipélago no oceano Pacífico. FitzRoy queria um cavalheiro a bordo para lhe fazer companhia. E o abonado Darwin, de 22 anos, acabou escolhido, principalmente porque estava estudando para virar padre - mas também porque FitzRoy gostou do formato do nariz dele, que "sinalizava profundidade de caráter".
O capitão tinha dois objetivos para a viagem. Um a serviço do Império Britânico: mapear a costa da Patagônia. Outro, pessoal: encontrar provas científicas de que o mundo tinha sido criado de acordo com o que está na Bíblia. Mal sabia ele que o assassino de Deus estava a bordo.
A paisagem infernal das Galápagos, onde aportaram em 15 de setembro de 1835, após quase 4 anos de expedição, era um paraíso para Darwin. Ele pintou e bordou com tudo o que pôde naquele lugar perdido no tempo. Pegou carona nas tartarugas ("Era difícil manter o equilíbrio."), tirou onda com as iguanas ("Ela ficou olhando para mim como se
quisesse dizer: Por que você puxou a minha cauda?") e encheu o bucho de iguarias
exóticas ("Tatu é um prato excelente quando assado em sua carapaça."). De quebra tirou de lá a inspiração para a idéia mais importante e assustadora da história da ciência.
O gatilho para esse pensamento veio quando ele percebeu diferenças instigantes entre os bicos de uma espécie de passarinho das Galápagos, os tentilhões. Em uma ilha eles tinham bicos grossos, bons para quebrar nozes. Em outra, longos e finos, ideais para arranjar comida em frestas. Darwin imaginou que aquelas aves deviam ter se adaptado de algum jeito.
Por mágica? Não: por um processo de seleção que levou gerações. Em ambas as ilhas teriam nascido pássaros de bico fino e de bico grosso. Naquela onde havia nozes para comer, só estes últimos teriam sobrevivido. A partir desse raciocínio simples, nascia um monstro.
De volta à Inglaterra, aos 27 anos, Darwin estudou a fundo as 5.436 carcaças, peles e ossos que colecionara na viagem do Beagle e concluiu que TODAS as espécies do mundo tinham passado por processos de adaptação equivalentes ao dos tentilhões. Bem devagarzinho.
Imagine as asas dos pássaros, por exemplo. Pela lógica de Darwin, elas não nasceram prontas. Em algum ninho dos ancestrais dos pássaros, que não voavam, surgiu um mutante, um "patinho feio", com uma pequena membrana que lhe permitia planar de vez em quando. Essa característica deu-lhe alguma vantagem na luta pela sobrevivência.
E o bicho deixou mais descendentes que seus irmãos. A prole dele, que carregava a mesma mutação, também fez mais filhos, e por aí foi. Com o tempo, novos mutantes, novos patinhos feios, foram nascendo com asas cada vez melhores. E no fim das contas um novo tipo de animal se consolidava no planeta: os pássaros.
Tudo às custas da extinção de outros bichos parecidos, só que menos adaptados à dureza da vida. "A produção de animais superiores é conseqüência da natureza, da fome e da morte", escreveu Darwin.
Nós mesmos, imaginou o inglês, não podíamos estar de fora. A diferença é que a evolução para a forma que temos hoje foi a partir de "macacos" (na verdade, animais parecidos com macacos) que foram desenvolvendo cérebros cada vez maiores, do mesmo jeito que os pássaros fizeram com as asas.
E esses "macacos" vieram de outros bichos... Hoje sabemos de quem: de peixes mutantes que nasceram com a capacidade de respirar fora da água - nossos pulmões, por exemplo, vieram direto desses animais, que viviam em pântanos lamacentos.
Aí não tinha mais jeito. Darwin já sabia que não éramos "a imagem e semelhança de Deus". Agora responda: o que você faria ao perceber que na sua cabeça existe uma idéia que pode abalar as crenças mais profundas de quase toda a humanidade? Darwin sentiu o peso, e ficou aterrorizado.
Demorou mais de 30 anos para publicar a idéia em seu livro "A Origem das Espécies", de 1859. E ainda assim o livro só saiu quando ele leu um artigo de Alfred Russel Wallace, um biólogo inglês. O texto continha uma teoria bem similar à da seleção natural, porém menos abrangente. Com medo de ser passado para trás, Darwin autorizou seu amigo Thomas Huxley a expor a Teoria da Evolução ao mundo científico, pois ele mesmo não teve coragem. "Foi como confessar um assassinato", escreveu.
Por isso mesmo a teoria demorou para virar unanimidade entre os acadêmicos. Ela só foi aceita para valer quando outros cientistas, já no século 20, a refinaram com base na genética - a forma como os pais transmitem suas características aos filhos. Esse renascimento deu um gás novo à Teoria da Evolução.
E na década de 1930 começava uma nova revolução: o neodarwinismo. Com ele, uma idéia aterradora começou a sair do forno: a de que você não passa de um robô. Era a Teoria do Gene Egoísta, que ganhou corpo nos anos 70. Para entendermos melhor essa história, vamos fazer outra viagem no tempo. Desta vez para uma época bem anterior à do Beagle. Mas com um destino igualmente infernal.
99,9%
É a quantidade de genes que você compartilha com outros humanos; com chimpanzés,
são 99,4%; com ratos, 80%; com vermes, 40%.
576 Megapixels é a capacidade estimada dos nossos olhos. Nada mal para um órgão
que nasceu nos vermes como um detector de luz e sombra
.

Uma hora, como quem não quer nada, apareceu um estranho nesse ninho. Um acidente da natureza. Era uma molécula capaz de se replicar, de sugar matéria orgânica do ambiente e usar como matéria-prima para produzir cópias dela mesma. Motivo? Nenhum: ela fazia réplicas por fazer e pronto. Vai entender...
ORIGEM DAS ESPÉCIES 2.0

Planeta Terra, 4 bilhões de anos atrás. Um mundo adolescente, infestado por vulcões, meteoritos e tempestades violentas. No mar desse inferno, moléculas de carbono encontraram um porto seguro. E começaram a se juntar, formando cadeias cada vez mais longas e complexas.
Essa aparição foi algo tão improvável quanto se este sitecomesse seus dedos agora e, a partir dos átomos da sua carne, pele e ossos, construísse uma cópia dela mesma. Improvável, mas foi exatamente o que aconteceu naquele dia. E não havia nada ali para conter o apetite da monstruosa molécula.
Ainda mais porque arranjar matéria-prima, ou seja, "comida", nesse oceano primitivo era fácil: bastava "pescar" nutrientes na água. Assim ela cresceu e se multiplicou. Mas tinha um problema: nem sempre as réplicas saíam perfeitas. Às vezes acontecia um erro de cópia aqui, outro ali. Surgiam aberrações.
"Um livro e tanto escreveria o capelão do Diabo sobre os trabalhos desastrados, esbanjadores, ineficientes e terrivelmente cruéis da natureza!", escreveria Darwin sobre esse processo bilhões de anos depois.
Esses erros aconteciam bem de vez em quando: um a cada milhão de réplicas. Mas tempo é o que não falta nesse mundo. Então eles foram se acumulando mais e mais. Só que alguns não davam em aberrações. Muito pelo contrário. Algumas réplicas nasciam com uma mutação que as fazia se multiplicar mais em menos tempo.
E não demorou para essas mutantes mais férteis dominarem o mar. Só isso já é um tipo de seleção natural. Mas a regra de Darwin só deu as caras para valer quando aconteceu o inevitável: o mundo ficou pequeno para tantos replicadores. Com a superpopulação, os
ingredientes de que eles precisavam para fazer suas cópias rarearam. Era a primeira
crise de fome no planeta.
A saída? Ir para a briga. Mas estamos falando de moléculas, que não têm lá muito poder de decisão. Foi aí que provavelmente surgiu uma mutação inédita, que permitia a algumas moléculas comer outros replicadores. Assim elas conseguiam eficiência total: arranjavam almoço e eliminavam rivais ao mesmo tempo.
Mas o domínio não duraria para sempre. Com o tempo surgiram mutantes com capa protetora natural. Com essa armadura, dava para comer os rivais sem o risco de ser comido. Nasciam as primeiras células do mundo.
"Os replicadores deixavam de meramente existir e começavam a fazer contêineres para eles, veículos para que pudessem continuar vivos. Os que sobreviveram foram os que construíram 'máquinas de sobrevivência' para si", escreveu o mais notório dos neodarwinistas, o zoólogo Richard Dawkins, da Universidade de Oxford, na Inglaterra.
Não demorou para virem células mutantes ainda mais terríveis contra as rivais. Elas tinham o poder de juntar forças com outras células e atacar unidas. E de fazer cópias de si mesmas numa tacada só, como se todas fossem uma única molécula. Surgiam os primeiros seres multicelulares.
E eles ficaram cada vez mais complexos: suas células passaram a assumir funções distintas para operar sua máquina de sobrevivência. Faziam como soldados num tanque de guerra: umas ficavam a cargo da locomoção, na forma de nadadeiras; outras, dos "satélites" para encontrar comida (visão, olfato).
E o progresso nunca parou. Tanto que hoje boa parte dos replicadores vive em "robôs" imensos, feitos de milhares de trilhões de células. Agora os chamamos de genes, e eles estão dentro de nós. Somos sua máquina de sobrevivência.

Foi para isso que eles criaram nosso corpo e nossa mente. E agora nos comandam lá de dentro, por controle remoto, para que trabalhemos em nome de sua preservação. A razão da existência? Lutar para que os genes façam cópias deles mesmos do melhor jeito possível.
O SENTIDO DA VIDA
Genes mutantes e as pressões da seleção natural fizeram essa obra esplêndida que
você vê no espelho todas as manhãs. Uma caminhada e tanto. Mas uma coisa não mudou desde os tempos da primeira molécula replicadora. Aquele objetivo irracional continua intacto: tudo o que os genes querem é fazer cópias de si mesmos.
E, para os neodarwinistas, esse egoísmo dos genes é a chave para descobrir como a nossa mente funciona. O próprio Darwin tinha escrito, no final de "A Origem das Espécies": "Agora a psicologia se assentará sobre um novo alicerce". Demorou, mas aconteceu. Uma nova ciência da mente ganhou terreno no final do século 20. Foi a psicologia evolucionista, que usa Darwin e a mecânica dos genes para entender o que se passa aí dentro da sua cabeça.
Premissa número 1 dessa ciência: a mente já nasce quase pronta. Ela não é uma folha em branco, em que qualquer coisa pode ser "escrita", como muitos filósofos e cientistas sociais defendem. Do ponto de vista da psicologia evolucionista, não faz sentido dizer que a cultura molda o nosso comportamento. Ela afirma que sua mente foi forjada ao longo de
toda a evolução.
E que você vem ao mundo com todos os "softwares" instalados no "hardware" da sua cabeça. Seus desejos, sua personalidade e tudo o mais dependem desses programas mentais. Nossa margem de manobra é pequena. E tem outra: a mente humana ganhou os softwares que tem hoje nos últimos 200.000 anos, quando nossa espécie, o Homo-sapiens, veio ao mundo.
Passamos 97% desse tempo em bandos nômades, que viviam da caça e da coleta. Nossa mente, então, não passa de uma ferramenta da Idade da Pedra tentando se virar num mundo que não existe mais. Do ponto de vista dos nossos genes, ainda estamos no Paleolítico, uma época sem faculdade, carreira, dinheiro ou anticoncepcionais. Uma época em que só duas coisas realmente contavam:
SEXO E VIOLÊNCIA
Se ainda sobrou alguma coisa que você queria saber sobre sexo, mas não tinha coragem de perguntar, talvez a resposta dos evolucionistas sirva: ele é a forma que os genes arrumaram para melhorar as defesas da sua máquina de sobrevivência.
Por exemplo: se você tem um sistema imunológico que não sabe se defender de algum vírus, e tudo o que você sabe fazer para se reproduzir são cópias de si mesmo, como aquelas primeiras células, seus rebentos vão ter esse problema. E o clã inteiro vai morrer no caso de um ataque.
Agora, se você combina seus genes com o de um ser imune ao tal vírus, a história é outra: teoricamente, só uma parte do clã morreria. E o resto continuaria passando seus genes adiante como se nada tivesse acontecido.
Ao criar esse tipo inovador de reprodução, a seleção natural tratou de dividir o trabalho entre dois tipos de funcionários especializados. Um teria a função de tentar pôr seus genes em qualquer máquina de sobrevivência que cruzasse seu caminho. O outro selecionaria entre esses primeiros quais têm os melhores genes para compartilhar e cuidaria da cria que os dois tivessem juntos.
Em outras palavras, o mundo se dividia entre machos e fêmeas (em algumas espécies, os papéis se invertem: os filhotes ficam a cargo dos machos, então eles é que são os mais paquerados).
Enfim, ao ganhar o poder de decidir quais machos terão filhos e quais ficarão na prateleira, as fêmeas assumiram o controle da evolução na maioria das espécies. E, para a psicologia evolutiva, é isso que determina aquilo que mais importa na vida: a propagação dos nossos genes, coisa também conhecida como vida afetiva e sexual.
O sexo, hoje, tem pouca relação com o ato de fazer filhos. Você sabe. Nenhum adolescente pensa em engravidar 10 meninas quando vai viajar para o Carnaval. Mas os genes dele não fazem idéia de que existem camisinhas e tudo o mais, então deixam o rapaz com vontade de transar com 10 garotas e pronto.
Se tudo der certo, esses genes poderão instalar-se no útero de um monte de meninas e construir um monte de bebês (várias máquinas de sobrevivência novinhas em folha!).
Do ponto de vista das fêmeas a história é outra: transar com 10 sujeitos num feriado não vai "render" 10 filhos para os genes dela se instalarem. Vai dar é uma baita dor de cabeça. Os contraceptivos poderiam deixá-las livres para fazer sexo só pelo prazer com um monte de seres do sexo oposto, como qualquer homem faz (ou tenta fazer).
Mas não. O cérebro delas evoluiu para selecionar os melhores parceiros, ter poucos (e bons) filhos, não para tentar a sorte com qualquer um. Sem falar que, do tempo dos nossos ancestrais caçadores-coletores até o século 20, sexo casual para elas era correr o risco de acabar com um bebê indesejado. Aí não tem ideologia liberal nem pílula que dê conta de superar esse "trauma" evolutivo.
Psicólogos da Universidade Stanford, nos EUA, checaram isso com uma experiência
simples. Contrataram homens e mulheres atraentes para abordar estudantes e dizer: "Você gostaria de ir para a cama comigo hoje?" Nenhuma mulher aceitou. Já as garotas tiveram resultados melhores: 75% dos homens toparam no ato.
Dos 25% restantes, a maioria pediu desculpas, explicando que tinha marcado de sair com a namorada. Pois é: do ponto de vista da seleção natural, uma bela fêmea disponível é um bem valioso demais para ser desperdiçado. Nenhum homem se surpreende com isso (o pessoal da obra não está só brincando quando diz "ô, lá em casa!"), mas para as mulheres a verdade
da psicologia evolucionista pode soar assustadora:
"O desejo de variedade sexual nos homens é insaciável. Quanto maior for o número de mulheres com quem um homem tiver relações, mais filhos ele terá [pelo menos é o que "pensam" os genes]. Então demais nunca é o bastante", escreveu outro guru do neodarwinismo, o psicólogo Steven Pinker, da Universidade Harvard, nos EUA.
Esse apetite todo também ajuda a explicar as raízes de outro comportamento ancestral: a violência. Os despojos de guerra mais comuns nos conflitos tribais sempre foram as mulheres. Não é à toa que uma das lendas sobre a fundação de Roma, que aconteceu no século 8 a.C.,celebra o dia em que os primeiros romanos atacaram uma tribo vizinha, a dos sabinos, e raptaram as mulheres deles para começar sua civilização. Não dá para não dizer que deu certo.
E esse é o ponto: às vezes a violência é, sim, o melhor jeito de conseguir alguma coisa. Então não há mistério para a psicologia evolucionista: como a violência funcionou ao longo da história, está impregnada nos nossos genes.
"Os bebês só não matam uns aos outros porque não lhes damos acesso a facas e revólveres", disse o pediatra e psicólogo Richard Tremblay, da Universidade de Montreal, em uma entrevista à revista americana Science. A grande questão, ele completa, não é como as crianças aprendem a agredir, mas como elas aprendem a não fazer isso.
Intrigante, mas o psicólogo evolucionista Eduardo Ottoni, da USP, tem a resposta
na ponta da língua: "A coisa mais complicada na vida de um primata é a capacidade de se virar em sociedades complexas. E se dar bem socialmente não é dar bifa em todo mundo". Então nada melhor que um pouco de altruísmo com alguns para ficar bonito na foto.
Os morcegos que o digam: entre as espécies que se alimentam de sangue, a vida não é fácil. Nem sempre dá para voltar pra caverna com o almoço na barriga. Mas os que conseguiram sangue durante o dia dão uma força aos malsucedidos, oferecendo a eles o sangue que sobrou na boca. Mas não tem conversa: quem não retribuir a oferta quando a situação for inversa fica com a reputação manchada e é banido do almoço grátis.
Mas em alguns casos somos altruístas sem querer nada em troca, nem inconscientemente. Isso acontece quando se trata das nossas famílias. E é aí que, para os neodarwinistas, fica mais clara a forma como os genes nos dominam.

15%
150

Era o número de pessoas que nossos antepassados conheciam durante a vida. Todos sabiam tudo sobre todo mundo! E nos habituamos a viver assim. Por isso as revistas de fofoca vendem tanto, dizem os evolucionistas.
É a média do quanto os homens são mais altos que as mulheres. Taí um flagrante da luta entre os machos ao longo da evolução. Só os mais fortes ficaram para contar a história
SANGUE DO MEU SANGUE
Você é uma máquina de sobrevivência dos seus genes, que o usam para se reproduzir. Ok. Mas o que aconteceria se esses genes tivessem construído um cérebro capaz de detectar cópias deles em outro corpo? O seguinte: eles também lutariam pela sobrevivência desse corpo.
Fariam você se sentir aliviado com bem-estar dele. O fato é que os genes construíram esse sistema de detecção. Todos os cérebros têm isso em algum grau. E o altruísmo puro é exatamente o que acontece quando dois animais são parentes próximos.
Existe uma chance em duas de que qualquer um dos seus genes esteja no seu irmão ou no seu filho. E 1 em 8 de que esteja em um primo. Sendo assim, o que o neodarwinismo diz é: você não "ama" seus filhos e irmãos. São seus genes que vêem neles maneiras de se perpetuar.
E é por isso que você os ajuda. O geneticista John Haldane (1892-1964), um dos pioneiros do neodarwinismo, quis deixar isso claro quando lhe perguntaram se ele daria a vida por um irmão. A resposta: "Não. Mas daria por 2 irmãos ou 8 primos". O mesmo vale para quando nos apaixonamos.
Se você ama alguém, quer ter filhos com essa pessoa, quer colocar seus replicadores ali e se esfolar para cuidar dos rebentos. Aí, para o futuro dos genes, sua vida só faz sentido se aquela pessoa existir. E o sentimento é tão poderoso que parece eterno enquanto dura.
Outra coisa que determina a hierarquia entre parentes é a expectativa de que eles se reproduzam. Daí os pais se sacrificarem mais pelos filhos do que os filhos pelos pais. Responda rápido: se você tivesse que decidir entre a morte de 20 estranhos e a vida do seu filho, ficaria com qual opção?
Ou melhor: existe algum número de pessoas que valha a vida de um filho? Para a psicologia evolucionista, não. Para o Zé Mané do boteco e a dona Cleide da quitanda também não. O egoísmo dos genes aí dentro é maior do que tudo o que tem do lado de fora.
A EVOLUÇÃO DO UNIVERSOFalando em lado de fora, e o lado de fora? A evolução seria um fenômeno circunscrito
à vida na Terra ou algo universal, como as leis da física? O físico Lee Smolin, do Perimeter Institute, no Canadá, fica com a opção número 2.
Smolin mandou as regras de Darwin para o espaço. Literalmente: criou uma teoria que aplica a seleção natural ao Universo inteiro. E foi além. Para ele (e outros físicos), nosso Universo é só mais um entre bilhões e bilhões. Todos juntos num Cosmos imensurável que podemos chamar de Multiverso. Nesse cenário, os universos são os indivíduos, os replicadores. Cada um lutando para fazer mais e mais cópias de si mesmo.
Bom, este Universo aqui começou quando toda matéria, tempo e espaço que conhecemos estavam espremidos em algo infinitamente pequeno. Esse pontinho explodiu no "dia" do big-bang, há 13,7 bilhões de anos, e agora estamos aqui. Mas tem uma coisa: existem alguns lugares no Universo em que tudo também está espremido desse jeito agora mesmo.
São os buracos negros, que sugam tudo o que está à volta deles, inclusive tempo e espaço. Por isso, Smolin imagina que dentro de cada buraco negro há um big-bang acontecendo. E os buracos seriam como "gametas" cósmicos: dariam à luz novos universos, parecidos com o "pai". Então Smolin considera que as "espécies" mais bemsucedidas no Multiverso são justamente as que produzem mais buracos negros - a "prole" delas vai ser seguramente maior.
Lembre-se que buracos negros são estrelas mortas. E daí? Daí que, quanto maior for o número de estrelas, maior vai ser o de "gametas".Mais: as nuvens de matéria onde as estrelas nascem precisam ser bem frias. Bom, e sabe que tipo de coisa é o que há de melhor para esfriar essas nuvens cósmicas?
Moléculas de carbono. Elas mesmas, as que deram o pontapé inicial na vida por aqui. Quanto mais delas houver por aí, mais "filhos" um Universo vai gerar. E nós, os descendentes dessas moléculas, seríamos um mero subproduto da verdadeira seleção natural, a do Cosmos. Parece desolador, mas, se for isso mesmo, podemos nos orgulhar de saber que as leis de Darwin governam tudo isso.
Ou até mais do que isso. Baruch Spinoza, um filósofo holandês do século 17, defendia
que Deus e Universo são apenas dois nomes para uma coisa só; que o Criador não é exatamente um criador, mas a grande regra que move o Cosmos. Se você gosta desse ponto de vista (Albert Einstein gostava) pode dizer tranqüilamente: Charles Darwin não matou Deus. Só descobriu onde ele estava.
TRÊS FATOS SEXUAIS DA EVOLUÇÃO QUE NUNCA ENSINAM NA ESCOLA:1 - Os macacos bonobos têm testículos gigantes. É que as fêmeas deles transam com todo mundo, então a competição acontece dentro dos testículos: quem faz mais espermatozóides consegue se reproduzir.
2 - Os homens de todas as culturas preferem as mulheres com "corpo de violão", também conhecidas como gostosas. É que quadris largos, cintura fina e seios generosos são sinais de que a moça é bem fértil.
3 - Em algumas espécies de aves monogâmicas um terço dos filhotes nasce de casos extraconjugais - a fêmea busca os genes de machos mais fortes e faz o dedicado marido cuidar de rebentos que não são dele. Nota: isso também acontece com humanos.

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quarta-feira, 4 de maio de 2011

Entrevista ao Zero Hora.com de DANIEL CLEMENT DENNETT, Filósofo e Psicólogo americano



Religião não é apenas um fenômeno acadêmico”
Entrevista: Daniel Dennett, filósofo, autor de “Breaking the Spell”
Publicado em 01/05/2010
Há clérigos que não acreditam em Deus? Essa pergunta, que poderia ter sido o ponto de partida de uma reportagem jornalística ou de um romance, serviu de mote para um artigo científico intituladoPreachers Who Are Not Believers (Pregadores que Não São Crentes) publicado na edição de março da revista americana Evolutionary Psichology. Um de seus autores, o filósofo e psicólogo Daniel Dennett, foi a campo entrevistar homens e mulheres que, depois de uma vida inteira dedicada a comunidades de fiéis, deram-se conta de que haviam perdido a fé. O texto revela as angústias desses pregadores que, apesar da descrença, não abandonam o púlpito.
Filho de um agente de inteligência e de uma jornalista, Dennett é um dos expoentes do neoateísmo, corrente que, além de sustentar a não existência de Deus, recorre a instrumentos de comunicação de massa, como outdoors, para propagar suas ideias e promove uma crítica ácida de instituições como a Igreja Católica. O livro mais conhecido de Dennett é Darwin’s Dangerous Idea (A Ideia Perigosa de Darwin), inédito no Brasil, foi publicado em oito países e está prestes a ganhar versões em húngaro, japonês e chinês. Nesta entrevista, concedida por e-mail, ele explica suas ideias:
Zero Hora – O ateísmo está se expandindo? Por quê?
Daniel Dennett – Sim, está. Acredito que quatro livros surgidos num curto período de tempo – O Fim da Fé, de Sam Harris (Tinta da China, 2007), Deus, um Delírio, de Richard Dawkins (Companhia das Letras, 2007), Deus Não É Grande, de Christopher Hitchens (Ediouro, 2007), e meu livro, Breaking the Spell (Quebrando o Feitiço, inédito em português), encorajaram muitos ateístas a serem menos reticentes sobre suas opiniões. Isso também encorajou outros a repensar suas crenças. Duvido que muito mais pessoas tenham se tornado ateístas; penso que elas estão apenas admitindo que foram ateístas por anos.
ZH – Um mês depois do 11 de Setembro, o romancista britânico Ian McEwan escreveu: “Dissabor com qualquer religião”. O revival ateísta é um efeito colateral do 11 de Setembro?
Dennett – Duvido que o 11 de Setembro tenha muito a ver com isso, embora a resposta do governo George W. Bush ao 11 de Setembro tenha sido extremamente desordenada. Foram as insinuações de teocracia no governo Bush que me provocaram, por exemplo, a deixar de lado meus outros projetos e escrever meu livro.
ZH – A religião é, em si, má?
Dennett – Não, ou pelo menos apenas certa religião é má em si mesma. A maior parte é muito benigna, mas isso confere “coloração protetora” às variantes más, que, por serem religiões, são consideradas acima da crítica por muitas pessoas.
ZH – Imaginar que não exista religião é uma questão supérflua?
Dennett – Os Beatles já nos convidaram a imaginar isso. (O verso “Imagine… que não há religião também” é da canção Imagine, de John Lennon, e foi composta quando ele era ex-integrante dos Beatles.) Eu duvido que a religião vá simplesmente se extinguir. Penso que uma hipótese muito mais realista é que as religiões vão sobreviver se transformando em instituições mais aceitáveis.
ZH – O escândalo de abusos sexuais na Igreja Católica seria diferente se tivesse ocorrido num contexto não-religioso?
Dennett – Claro! Se, por exemplo, fosse descoberto que uma multinacional como a IBM, a Shell ou a General Motors tivessem acobertado esses crimes por seus empregados, os líderes dessas companhias estariam todos na prisão cumprindo longas penas. Penso que deveríamos julgar a Igreja Católica pelos mesmos padrões com que julgamos fabricantes de automóveis. No mínimo, deveríamos julgá-los por padrões elevados, uma vez que seus representantes têm tão extraordinárias posições de confiança.
ZH – O cientista britânico Richard Dawkins propôs a prisão do papa Bento XVI por “crimes contra a humanidade” em razão de seu suposto acobertamento dos escândalos. Qual é a sua opinião sobre isso?
Dennett – Creio que dificilmente será uma campanha bem-sucedida, mas aprovo-a de todo o coração.
ZH – Fazer campanha pelo ateísmo com anúncios em ônibus, como ocorre na Grã-Bretanha, é correto? Não seria melhor manter o debate no campo acadêmico e cultural?
Dennett –Religião não é apenas um fenômeno acadêmico. Creio que é muito saudável ter o público em geral informado sobre a variedade de opiniões sobre religião sustentadas por seus vizinhos e concidadãos. Os anúncios que vi eram de bom gosto, muitas vezes divertidos, leves. Eu os aprovo. Quem se sentir ofendido deveria ser submetido a algum tipo de ajuste de conduta. Não têm o direito de ter suas próprias opiniões mais respeitadas do que as opiniões de outros cidadãos.
ZH – Há um grande número de cientistas efetivamente engajados no ateísmo militante. O historiador britânico Eric Hobsbawm escreveu que cientistas geralmente não se preocupam com questões políticas e filosóficas, a menos que percebam algum risco a seu próprio trabalho. O senhor acredita que é esse o caso atualmente?
Dennett – Sim, cientistas têm coisas melhores a fazer com seu tempo e energia do que se engajar em atividades políticas em favor do ateísmo. Se pessoas que não acreditam em Deus mantivessem suas opiniões e práticas restritas a seus próprios grupos e não tentassem impô-las aos outros, não teríamos de nos engajar nesta atividade política.
ZH – A obra de Darwin ainda é perigosa do ponto de vista religioso?
Dennett – Não apenas do ponto de vista religioso. Há muitas pessoas na academia que não são religiosas no sentido tradicional mas que consideram a ideia da seleção natural profundamente repugnante. Isso as torna quase histericamente contrárias à aplicações do pensamento darwiniano em seus próprios campos. Isso pode se tornar perigoso.
ZH – Qual será a situação da religião na metade deste século?
Dennett – Se eu soubesse – se alguém soubesse –, não teria escrito meu livro, que apela por um novo estudo científico da religião, especialmente para nos dar uma fundação mais substancial na qual basear uma resposta a essa importante questão.