quarta-feira, 2 de novembro de 2011
terça-feira, 13 de setembro de 2011
O HOMEM, O MACACO E O NEANDERTHAL
Prof. Dr. Svante Pääbo
Director, Department of Genetics
Max Planck Institute for Evolutionary Anthropology
NÓS E OS MACACOS
Um dos diretores do Instituto Max Planck de Antropologia Evolucionária, em Leipzig, Alemanha, Svante Pääbo está entre os mais importantes e influentes cientistas da pesquisa genômica. De vocação multidisciplinar, durante a graduação esse sueco de 45 anos e maneiras tímidas também estudou história da ciência, egiptologia e russo, antes de tornar-se uma referência na área de biologia e genética evolucionária. Alguns de seus trabalhos recentes, que comparam fragmentos do DNA humano ao de outras espécies, produziram grande impacto. Em 1997, estudos de uma equipe sob seu comando comprovaram, de forma definitiva, que o ser humano não descende do homem de Neanderthal, espécie de hominídeo extinta há cerca de 30 mil anos.
Quando esteve no final de março no Brasil, para participar da Brazilian International Genome Conference, Pääbo falou sobre pesquisas desenvolvidas no Instituto Max Planck que compararam o DNA humano ao do chimpanzé (Pan troglodytes), a espécie animal cujo material genético mais se assemelha ao do Homo sapiens. Mesmo sem ter em mãos a seqüência completa do genoma desse primata - projeto ainda envolto em incertezas e sem data e financiamento para ficar pronto -, os cientistas estimam que a ordem dos nucleotídeos (bases) presentes nos DNAs do homem e do chimpanzé é idêntica em cerca de 99% dos casos.
Em termos constitutivos, portanto, apenas 1% do código genético humano parece ser distinto do genoma desse macaco. Para Pääbo, no entanto, o que nos torna humanos - e não chimpanzés - não é apenas essa pequena fração de DNA não compartilhada com os primatas mais próximos de nós. Mas sobretudo a forma única, peculiar ao Homo sapiens, de usar os genes comuns às duas espécies.
Num experimento conduzido no Instituto Max Planck, o pesquisador analisou o padrão de expressão de 20 mil genes - dois terços de nosso total - no sangue e em tecidos do cérebro e do fígado do homem e do chimpanzé. Diferenças significativas na maneira de utilizar esses genes foram encontradas somente nos tecidos cerebrais. Por isso, o biólogo evolucionário acredita que esse órgão seja o depositário dos segredos que nos fazem humanos. Para desenvolver essa teoria e, eventualmente, comprová-la, Pääbo gostaria que o seqüenciamento do genoma do chimpanzé fosse levado adiante o mais rápido possível. "A lentidão da comunidade científica em apoiar a idéia de um projeto genoma do chimpanzé talvez se explique por um desconforto subconsciente nosso diante do que pode surgir dessas comparações", diz o pesquisador sueco, em entrevista exclusiva ao jornalista Marcos Pivetta.
Do ponto de vista genético, não é possível dizer o que nos torna humanos e não chimpanzés?
Ainda não. Precisamos seqüenciar o genoma do chimpanzé, que terá de ser estudado a partir de uma perspectiva funcional, para sabermos quantos de seus genes são utilizadose como são.O ideal seria realizar esse tipo de análise durante o processo de desenvolvimento de um chimpanzé, o que talvez não seja possível. Gostaria de estudar a expressão de genes durante o desenvolvimento do cérebro de um desses animais. É possível que, no final dessas pesquisas a que me referi, nunca tenhamos um entendimento completo de todo o processo que nos torna humanos, mas poderemos ter alguma idéia dos fundamentos desse processo. Poderemos ter uma noção dos primeiros passos, dos pré-requisitos genéticos que nos fazem diferentes de todas as outras espécies. Não se pode esquecer, no entanto, que a condição humana, além de depender da carga genética, também está ligada a fatores culturais e de socialização. Há muitas coisas que nos tornam humanos: a morfologia, como somos do ponto de vista da aparência, a língua e outras habilidades cognitivas que não estão muito bem definidas. Ficarei contente se durante aminha vida uma ou duas dessas coisas forem desvendadas. A primatologia, no entanto, nos mostra que muitas das supostas diferenças absolutas entre o homem e o chimpanzé são, na verdade, distinções de gradação.
Como assim?
Vou dar alguns exemplos. Há alguns anos, um estudo científico mostrou que grupos vizinhos de chimpanzés, vivendo num mesmo lugar, se alimentavam de formas diferentes. Eram todos chimpanzés, comendo a mesma comida (ramos de árvore), mas de maneira distinta. Claramente o que aconteceu nesse local foi o seguinte: algum chimpanzé inventou uma forma diferente, mais eficiente, de comer, que foi adotada pelos outros membros do grupo e, depois, passada de geração em geração. Algo semelhante acontece com os humanos. Num lugar do planeta, 100% usam pauzinhos para comer. Em outro, 100% das pessoas comem com garfo e faca. São casos distintos de evolução cultural. É lógico que a evolução humana é mais complexa (do que a dos chimpanzés).
Em que sentido?
Ela muda mais rapidamente. Mas isso mostra que ela não é uma diferença absoluta entre as duas espécies. O mesmo acontece com a linguagem. Chimpanzés podem aprender muito. Podem pronunciar uma palavra, até juntar duas palavras. Mas, ainda que muito treinados, eles não vão dominar a nossa linguagem sofisticada. Isso, no entanto, não quer dizer que a língua seja uma diferença absoluta entre o homem e o chimpanzé. É novamente mais um tipo de diferença de gradação. Esse tipo de coisa você aprende quando começa a estudar a fundo os chimpanzés.
Hoje, diante de dois fragmentos de DNAs, um de um ser humano e outro de um chimpanzé, é possível dizer a origem de cada uma dessas seqüências?
Não é possível. Elas são muito semelhantes. Sem muita informação sobre as variações desse pedaço de DNA, não é possível dizer se é um homem ou um chimpanzé. Esses dois fragmentos poderiam ser de uma espécie apenas.
O número de genes dos chimpanzés deve ser semelhante ao dos humanos?
Certamente, o número de genes nos chimpanzés deve ser muito próximo do encontrado nos humanos. Pode haver alguns genes duplicados ou perdidos. Mas, até agora, todos os 5 mil cDNAs (cópia complementar do DNA original) de chimpanzés seqüenciados encontraram seu correspondente nos cDNAs de humanos.
Em termos evolutivos, faz alguma diferença o ser humano ter 30 mil ou 60 mil genes?
Acho que não. Quando se divulgou a seqüência do genoma humano, foi dito que os 30 mil genes eram um sinalda complexidade de como usamos esses genes. Mas, se tivéssemos 60 mil genes, isso não quer dizer que não seríamos complexos.
Há algum prazo para terminar o genoma do chimpanzé?
Não. Não se sabe ao certo nem quem fará todo o trabalho. A menos que surja alguém com dinheiro, esse projeto, que deve custar cerca de US$ 60 milhões, demorará anos para ser terminado. Há, no momento, uma iniciativa em curso no Japão sobre o genoma do chimpanzé. Em breve, deverá haver dinheiro, vindo do Japão e da Alemanha, para seqüenciar os cromossomos 22 e 23 do chimpanzé, que correspondem aos de número 21 e 22 no homem.
Por que o senhor diz que o seqüenciamento do genoma do chimpanzé caminha devagar devido a um receio das comparações e conclusões que podem surgir disso?
Para quem é um cristão fervoroso, quem acredita que a criação descrita palavra por palavra na Bíblia é verdadeira, ver que os chimpanzés são tão próximos de nós é uma conclusão perturbadora. Nos Estados Unidos, isso pode ser um tema importante. As diferenças entre o homem e os grandes macacos podem revelar os fundamentos genéticos de nossa rápida evolução cultural e expansão geográfica, que começou entre 150 mil e 50 mil anos atrás e levou à nossa atual dominação autoritária da Terra. A percepção de que um ou alguns acidentes genéticos tornaram a história humana possível vai nos propiciar um novo conjunto de indagações filosóficas sobre as quais teremos de pensar.
O estudo comparativo dos genomas do homem e de outras espécies levará então a uma revisão da história de nossa espécie?
Provavelmente, não teremos de reescrevê-la, mas teremos uma espécie de história adicional, um tipo de história genômica. Vamos poder dizer como nosso genoma está distribuído no mundo, como somos diferentes de nossos parentes mais próximos no planeta. Vamos ter uma história adicional, diferente das fontes escritas e do material arqueológico e paleontológico. É importante ressaltar que a história genética não é a história da humanidade, mas apenas um aspecto dela.
Qual será a maior contribuição dos estudos genômicos para essa nova forma de história?
Num certo sentido, eles nos darão uma forma mais objetiva de olhar nossa história genética. Podem produzir bons insights sobre como pensamos nossa espécie. Um exemplo desse tipo de insight é o resultado de trabalhos como o de Sérgio Danilo Pena (pesquisador da Universidade Federal de Minas Gerais). Ele mostrou que, apesar de muitos brasileiros se dizerem brancos, seu genoma pode ser majoritariamente de origem africana.
As pessoas ainda se surpreendem com as origens africanas da humanidade?
No fundo, a informação proveniente do estudo de genomas e da ciência em geral não vai acabar com o racismo ou o preconceito. O melhor que a informação pode fazer é não estimular esse tipo de sentimento e mostrarcomo são as coisas. Acho que é saudável ver que somos todos muito parecidos, que somos uma mistura, que há pouca variação. Isso contribuirá para mostrar que somos todos muito semelhantes, mas não vai fazer acabar o preconceito. A luta contra o preconceitotem mais a ver com políticas públicas, com a forma como você educa as pessoas nas escolas, com o jeito como a imprensa trata desse assunto.
Entre os seres humanos, o conceito de raça faz sentido?
Ele não faz sentido do ponto de vista científico. Sempre soubemos que a noção de raça nunca fez sentido. Encontramos as mesmas seqüências de DNA em todo lugar do mundo. Se você está na Europa e caminha para o leste, onde é que as pessoas deixam de ser européias e começam a ser asiáticas? Isso é totalmente arbitrário. Isso é uma questão social. De certa forma, faz sentido trabalhar com o conceito de populações, apesar de a definição de população negra, por exemplo, também não ser muito clara.
O senhor não se pergunta, de vez em quando, se toda essa ênfase dada às pesquisas genômicas não é um pouco exagerada?
Claro que há algum exagero, como em tudo. Mas acho que esse ramo de pesquisa representa algo de muito fundamental, pois permite conhecermos a estrutura de cada genoma, o local dos genes nos cromossomos. É algo fundamental.
Mas o senhor não acha que alguns pesquisadores se esquecem um pouco da influência das outras ciências no estudo do homem?
Acho que, com o aumento no número de genomas seqüenciados, haverá um retorno à biologia básica. Quero dizer que, quando falamos de transcriptoma, de proteoma (o conjunto de proteínas de um organismo), estamos dando passos atrás até a fisiologia. Num certo sentido, quando falamos de proteoma estamos falando muito de fisiologia. Só que hoje as pessoas não usam esse termo. Entender como as proteínas trabalham, como influenciam as células e os organismos, isso é fisiologia. A genômica vai permear toda a biologia.
FONTE:
ON LINE PESQUISA FAPESP
CIÊNCIA | ENTREVISTA SVANTE PÄÄBO
Nós e os macacos
Diretor do Instituto Max Planck de Antropologia Evolucionária pesquisa o que nos torna diferentes do chimpanzé
Marcos Pivetta
Edição Impressa 64 - Maio 2001
quarta-feira, 27 de julho de 2011
A Essência do Cristianismo” de Ludwig Feuerbach, Por José Ricardo Martins
A RELIGIÃO SOB UM OUTRO OLHAR:
Comentário sobre o livro A Essência do Cristianismo” de Ludwig Feuerbach.
Por José Ricardo Martins
“O solene desvelar dos tesouros ocultos do homem, a revelação de seus pensamentos íntimos, , a confissão pública de seus segredos de amor.”
“Como forem os pensamentos e a disposições do homem, assim será o seu Deus; quanto valor tiver um homem, exatamente isto e não mais, será o valor de seu Deus. Consciência de Deus é autoconsciência, conhecimento de Deus é autoconhecimento”.
“Deus é a mais alta subjetividade do homem, abstraída de si mesmo.”
“Este é o mistério da religião: o homem projeta o seu ser na objetividade e então se transforma a si mesmo num objeto face a esta imagem de si mesmo, assim convertida em sujeito.”
(Trechos de “A Essência do Cristianismo” de L. Feuerbach)
1. Introdução
Este artigo tenta expor as principais idéias do filósofo alemão Ludwig Feuerbach a respeito da religião. A religião, especialmente o cristianismo, foi o centro da atividade intelectual e da “perdição” do ousado filósofo que rompeu com o pensamento de seu mestre Hegel e transformou a religião num fenômeno antropológico, expressão da natureza humana.
Considera a religião a essência imediata do ser humano, acreditando assim poder explicitar os "tesouros escondidos no homem". Reduz atributos divinos da teologia a atributos humanos da antropologia. Sua filosofia procura transformar a teologia de Hegel em uma antropologia baseada no mesmo princípio, a unidade do limite e do infinito. Compondo a esquerda hegeliana, Feuerbach defende a idéia de que para Hegel a religião não é razão, e sim representação, sendo então redutível ao mito. Esta facção, em um primeiro momento, faz uso das idéias hegelianas dirigindo-as contra a teologia e a filosofia tradicional. Em uma segunda etapa, acaba por criticar as abstrações hegelianas em defesa do homem concreto, e a fé cristã em defesa de uma metafísica imanentista. Distancia-se de Hegel, entre outras coisas, ao eleger o homem concreto como sua prioridade e não a idéia de humanidade.
2. A Essência do Cristianismo
Em sua obra-prima, “A Essência do Cristianismo” , Feuerbach aborda o fenômeno religioso a partir do próprio homem.
“O homem se distingue do animal pela consciência.” Em outra passagem afirma: “Consciência é a característica de um ser perfeito”. O homem tem consciência de si através do objeto. Ou seja, o outro: o eu e o tu, na visão positivista.
A trindade humana - amor, razão e vontade - é a essência do próprio homem, é o homem completo:
- a força do pensamento é a luz do conhecimento, a razão;
- a força da vontade é a energia do caráter;
- a força do coração é o amor.
Querer, sentir e pensar são perfeições, essências, realidades... são infinitos, ilimitados. É ser consciente de si mesmo. É impossível, afirma Feuerbach nos remetendo à Descartes quando fala que Deus só pode ser um ser perfeitíssimo, ser consciente de uma perfeição como imperfeição; impossível sentir o sentimento como limitado, impossível pensar o pensamento como limitado.
Assim, o Ser Absoluto, o Deus do homem, é a sua própria essência. Feuerbach, já no início de sua obra, antropologiza a Trindade cristã em amor, razão e vontade, e que nada mais é do que a nossa própria essência. E a consciência disso é o que nos distingue dos animais. Amor, razão e vontade, essências do ser humano, são realidades ilimitadas, infinitas assim como Deus o é.
A antropologização segue seu curso em Feuerbach. O querer (a vontade) torna o homem infinito. O mesmo acontece com o sentir e o pensar que tornam o homem infinito e ilimitado, que são nossas construções de Deus. A consciência disso é autoconfirmação, auto-afirmação, que somos seres ilimitados e que projetamos tudo isso em Deus. Nossa educação cristã não permite que tomemos para nós adjetivos de tamanha grandeza. Não nos permite que possamos “conhecer mais que Deus” ou “se igualar a Deus”. Feuerbach, tornou-se maldito por ter ousado dizer que o que temos de melhor, de mais sublime, enfim nossa essência, dizemos que é Deus. Ou seja, projetamos nossa essência em Deus e nos esquecemos que isto somos nós mesmos, nos anulando. Por outro lado, ele também afirma que isto é positivo, pois faz nos lembrar e ter consciência do melhor de nós mesmos.
Feuerbach continua na linha cartesiana: “o divino só pode ser conhecido pelo divino”. Isto quer dizer: se não tivéssemos o divino em nós, não poderíamos falar, exprimir ou experimentar o divino. E o divino não é razão, é sentimento: “a essência divina que o sentimento percebe é em verdade apenas a essência do sentimento arrebatada e encantada consigo mesma – o sentimento embriagado de amor e felicidade”. O autor constata que fez-se do sentimento a parte principal da religião, bem como a essência objetiva dela. “O sentimento é transformado num órgão do infinito, da essência subjetiva da religião, o objeto da mesma perde seu valor objetivo”. E no objeto religioso a consciência coincide com a consciência de si mesmo, o seu íntimo. Já num objeto sensorial, a consciência está fora, e no religioso, o objeto está dentro do próprio homem, sendo sua essência. Assim, amparado em Agostinho que diz que “Deus é mais próximo, mais íntimo e por isso, mais facilmente reconhecível que as coisas sensoriais e corporais”, Feuerbach resume sua visão antropológica da religião:
“A consciência de Deus é a consciência que o homem tem de si mesmo; o conhecimento de Deus é o conhecimento que o homem tem de si mesmo. Pelo Deus conheces o homem e vice-versa pelo homem conheces o seu Deus; ambos são a mesma coisa. [...] A religião é uma revelação solene das preciosidades ocultas do homem, a confissão dos seus mais íntimos pensamentos...”
Nesse sentido, a religião tornou-se, para Feuerbach, uma idolatria, pois o homem adora a sua própria essência: “os predicados divinos são qualidades da essência humana” e “na religião, o homem ao relacionar-se com Deus, relaciona-se com a sua própria essência”.
Feuerbach percebe a necessidade existente no homem da religião – “o sentimento religioso é o mais alto sentimento de conveniência” - uma vez que ela lhe serve como alívio frente às angústias, à dor e ao sofrimento da existência, que a natureza somente provoca e não alivia. O homem é dependente da natureza para existir. A natureza é sentida como necessidade, e é ai que surge a religião, opondo-se entre o querer e o poder, pensamento e o ser. Diante da natureza, o homem sente-se limitado, finito, já a religião teria a possibilidade da onipotência e da infinitude de Deus para oferecer ao homem. Os desejos do homem estariam assim representados enquanto possibilidade na figura de Deus, que é a representação imaginária da realização de todos os desejos humanos, superando os limites que a natureza lhe impõe. Deus domina a natureza, pois para o homem, ele é quem a cria. Assim sendo, Feuerbach desloca a divindade de um Deus externo ao homem para o interior do próprio homem. Ele é o Deus dele mesmo, e diz: "O Ser Absoluto, o Deus do homem é o próprio ser do homem." Deus é então a consciência que o homem tem de sí mesmo, de seu ser. A exemplo disto, a perfeição divina nada mais é do que o desejo do homem de ser perfeito e a consciência que tem de si, enquanto um ser imperfeito. O amor, a crença, o desejo, etc., atribuídos a Deus, que segundo Feuerbach, deveriam voltar-se para o próprio homem e para seu igual. Acredita que o homem deveria acreditar nele mesmo. No entanto, este filósofo aponta um erro na religião, que é a ilusão que ela cria. Ao mesmo tempo que oferece um sentido de vida para o homem e uma forma de ele lidar com suas limitações, a religião acaba por distânciá-lo dele mesmo, exteriorizando a própria divindade.
3. Conclusão
Como vimos, para Feuerbach, o homem é quem cria Deus e não o contrário. Segundo o autor, a filosofia precisa dar conta deste homem como um todo, e não somente da razão que o compõe. Deve abraçar a religião, enquanto fato humano, considerando este homem em comunhão com outros homens, caminho este através do qual ele pode sentir-se livre e infinito. O autor acredita que somente a religião dá conta do homem em sua totalidade. Feuerbach sugere que a religião desempenha um importante papel na vida do homem concreto. Para ele, a consciência que o homem tem de Deus é a consciência que o homem tem de si. Acredita que para se conhecer um homem, basta conhecer seu Deus, já que na sua concepção, a religião, o Deus do homem, nada mais é do que a projeção da intimidade da essência do homem. Assim sendo, para Feuerbach o método da teologia é a antropologia, pois o homem deposita em seu Deus a sua essência.
Em sua radicalidade, torna-se patente em Feuerbach que a religião e mesmo o estado são institutos irracionais a serviço da racionalidade, pois revestem-se de um caráter racional para induzir “vulgo” à submissão.
Comentário sobre o livro A Essência do Cristianismo” de Ludwig Feuerbach.
Por José Ricardo Martins
“O solene desvelar dos tesouros ocultos do homem, a revelação de seus pensamentos íntimos, , a confissão pública de seus segredos de amor.”
“Como forem os pensamentos e a disposições do homem, assim será o seu Deus; quanto valor tiver um homem, exatamente isto e não mais, será o valor de seu Deus. Consciência de Deus é autoconsciência, conhecimento de Deus é autoconhecimento”.
“Deus é a mais alta subjetividade do homem, abstraída de si mesmo.”
“Este é o mistério da religião: o homem projeta o seu ser na objetividade e então se transforma a si mesmo num objeto face a esta imagem de si mesmo, assim convertida em sujeito.”
(Trechos de “A Essência do Cristianismo” de L. Feuerbach)
1. Introdução
Este artigo tenta expor as principais idéias do filósofo alemão Ludwig Feuerbach a respeito da religião. A religião, especialmente o cristianismo, foi o centro da atividade intelectual e da “perdição” do ousado filósofo que rompeu com o pensamento de seu mestre Hegel e transformou a religião num fenômeno antropológico, expressão da natureza humana.
Considera a religião a essência imediata do ser humano, acreditando assim poder explicitar os "tesouros escondidos no homem". Reduz atributos divinos da teologia a atributos humanos da antropologia. Sua filosofia procura transformar a teologia de Hegel em uma antropologia baseada no mesmo princípio, a unidade do limite e do infinito. Compondo a esquerda hegeliana, Feuerbach defende a idéia de que para Hegel a religião não é razão, e sim representação, sendo então redutível ao mito. Esta facção, em um primeiro momento, faz uso das idéias hegelianas dirigindo-as contra a teologia e a filosofia tradicional. Em uma segunda etapa, acaba por criticar as abstrações hegelianas em defesa do homem concreto, e a fé cristã em defesa de uma metafísica imanentista. Distancia-se de Hegel, entre outras coisas, ao eleger o homem concreto como sua prioridade e não a idéia de humanidade.
2. A Essência do Cristianismo
Em sua obra-prima, “A Essência do Cristianismo” , Feuerbach aborda o fenômeno religioso a partir do próprio homem.
“O homem se distingue do animal pela consciência.” Em outra passagem afirma: “Consciência é a característica de um ser perfeito”. O homem tem consciência de si através do objeto. Ou seja, o outro: o eu e o tu, na visão positivista.
A trindade humana - amor, razão e vontade - é a essência do próprio homem, é o homem completo:
- a força do pensamento é a luz do conhecimento, a razão;
- a força da vontade é a energia do caráter;
- a força do coração é o amor.
Querer, sentir e pensar são perfeições, essências, realidades... são infinitos, ilimitados. É ser consciente de si mesmo. É impossível, afirma Feuerbach nos remetendo à Descartes quando fala que Deus só pode ser um ser perfeitíssimo, ser consciente de uma perfeição como imperfeição; impossível sentir o sentimento como limitado, impossível pensar o pensamento como limitado.
Assim, o Ser Absoluto, o Deus do homem, é a sua própria essência. Feuerbach, já no início de sua obra, antropologiza a Trindade cristã em amor, razão e vontade, e que nada mais é do que a nossa própria essência. E a consciência disso é o que nos distingue dos animais. Amor, razão e vontade, essências do ser humano, são realidades ilimitadas, infinitas assim como Deus o é.
A antropologização segue seu curso em Feuerbach. O querer (a vontade) torna o homem infinito. O mesmo acontece com o sentir e o pensar que tornam o homem infinito e ilimitado, que são nossas construções de Deus. A consciência disso é autoconfirmação, auto-afirmação, que somos seres ilimitados e que projetamos tudo isso em Deus. Nossa educação cristã não permite que tomemos para nós adjetivos de tamanha grandeza. Não nos permite que possamos “conhecer mais que Deus” ou “se igualar a Deus”. Feuerbach, tornou-se maldito por ter ousado dizer que o que temos de melhor, de mais sublime, enfim nossa essência, dizemos que é Deus. Ou seja, projetamos nossa essência em Deus e nos esquecemos que isto somos nós mesmos, nos anulando. Por outro lado, ele também afirma que isto é positivo, pois faz nos lembrar e ter consciência do melhor de nós mesmos.
Feuerbach continua na linha cartesiana: “o divino só pode ser conhecido pelo divino”. Isto quer dizer: se não tivéssemos o divino em nós, não poderíamos falar, exprimir ou experimentar o divino. E o divino não é razão, é sentimento: “a essência divina que o sentimento percebe é em verdade apenas a essência do sentimento arrebatada e encantada consigo mesma – o sentimento embriagado de amor e felicidade”. O autor constata que fez-se do sentimento a parte principal da religião, bem como a essência objetiva dela. “O sentimento é transformado num órgão do infinito, da essência subjetiva da religião, o objeto da mesma perde seu valor objetivo”. E no objeto religioso a consciência coincide com a consciência de si mesmo, o seu íntimo. Já num objeto sensorial, a consciência está fora, e no religioso, o objeto está dentro do próprio homem, sendo sua essência. Assim, amparado em Agostinho que diz que “Deus é mais próximo, mais íntimo e por isso, mais facilmente reconhecível que as coisas sensoriais e corporais”, Feuerbach resume sua visão antropológica da religião:
“A consciência de Deus é a consciência que o homem tem de si mesmo; o conhecimento de Deus é o conhecimento que o homem tem de si mesmo. Pelo Deus conheces o homem e vice-versa pelo homem conheces o seu Deus; ambos são a mesma coisa. [...] A religião é uma revelação solene das preciosidades ocultas do homem, a confissão dos seus mais íntimos pensamentos...”
Nesse sentido, a religião tornou-se, para Feuerbach, uma idolatria, pois o homem adora a sua própria essência: “os predicados divinos são qualidades da essência humana” e “na religião, o homem ao relacionar-se com Deus, relaciona-se com a sua própria essência”.
Feuerbach percebe a necessidade existente no homem da religião – “o sentimento religioso é o mais alto sentimento de conveniência” - uma vez que ela lhe serve como alívio frente às angústias, à dor e ao sofrimento da existência, que a natureza somente provoca e não alivia. O homem é dependente da natureza para existir. A natureza é sentida como necessidade, e é ai que surge a religião, opondo-se entre o querer e o poder, pensamento e o ser. Diante da natureza, o homem sente-se limitado, finito, já a religião teria a possibilidade da onipotência e da infinitude de Deus para oferecer ao homem. Os desejos do homem estariam assim representados enquanto possibilidade na figura de Deus, que é a representação imaginária da realização de todos os desejos humanos, superando os limites que a natureza lhe impõe. Deus domina a natureza, pois para o homem, ele é quem a cria. Assim sendo, Feuerbach desloca a divindade de um Deus externo ao homem para o interior do próprio homem. Ele é o Deus dele mesmo, e diz: "O Ser Absoluto, o Deus do homem é o próprio ser do homem." Deus é então a consciência que o homem tem de sí mesmo, de seu ser. A exemplo disto, a perfeição divina nada mais é do que o desejo do homem de ser perfeito e a consciência que tem de si, enquanto um ser imperfeito. O amor, a crença, o desejo, etc., atribuídos a Deus, que segundo Feuerbach, deveriam voltar-se para o próprio homem e para seu igual. Acredita que o homem deveria acreditar nele mesmo. No entanto, este filósofo aponta um erro na religião, que é a ilusão que ela cria. Ao mesmo tempo que oferece um sentido de vida para o homem e uma forma de ele lidar com suas limitações, a religião acaba por distânciá-lo dele mesmo, exteriorizando a própria divindade.
3. Conclusão
Como vimos, para Feuerbach, o homem é quem cria Deus e não o contrário. Segundo o autor, a filosofia precisa dar conta deste homem como um todo, e não somente da razão que o compõe. Deve abraçar a religião, enquanto fato humano, considerando este homem em comunhão com outros homens, caminho este através do qual ele pode sentir-se livre e infinito. O autor acredita que somente a religião dá conta do homem em sua totalidade. Feuerbach sugere que a religião desempenha um importante papel na vida do homem concreto. Para ele, a consciência que o homem tem de Deus é a consciência que o homem tem de si. Acredita que para se conhecer um homem, basta conhecer seu Deus, já que na sua concepção, a religião, o Deus do homem, nada mais é do que a projeção da intimidade da essência do homem. Assim sendo, para Feuerbach o método da teologia é a antropologia, pois o homem deposita em seu Deus a sua essência.
Em sua radicalidade, torna-se patente em Feuerbach que a religião e mesmo o estado são institutos irracionais a serviço da racionalidade, pois revestem-se de um caráter racional para induzir “vulgo” à submissão.
O pensamento de Ludwig Feuerbach
No século 19, ouve uma grande proliferação dos ateus na Europa. Tido como principal filósofo contemporâneo ateu e um de seus mais notáveis difusores, o alemão Ludwig Feuerbach (1804 – 1872) chegou a influenciar o mais conhecido pensador ateu: Karl Marx. As idéias de Feuerbach têm como base que deus é a projeção do desejo de perfeição do homem. Assim, deus nada mais seria do que o próprio homem evoluído dentro de uma concepção divina. Na obra mais famosa do autor. A Essência Do Cristianismo, Feusrbach diz que o pensamento teológico, na verdade, é o desenvolvimento de um raciocínio em que “o homem cria deus a sua imagem e semelhança”.
A História do Pensamento Ateu
A historia do pensamento ateu é bastante difusa e, por isso, nada concentrada em único individuo ou lugar. No entanto, como muitos dos conceitos ocidentais, o primeiro relato de um pensador ateu ocorre na Grécia antiga, no século 4 antes de Cristo. A origem da palavra deste modo deriva do grego antigo, sendo o adjetivo atheos formado pelo prefixo a, dando o significado de “ausência”. O radical “teu”, derivado do radical theos, significa “deus”. Assim resultando o sentido de “sem deus”
Na Grécia, quem difundiu as idéias da ausência de deus foi o filosofo nascido na ilha de Samos em 341 a.c., Epicuro. Mesmo não sendo propriamente um ateu, levantou a questões de que os deuses nada mais são do que simples analogias das qualidades humanas. Durante seus estudos, Epicuro indagou a relação das pessoas com os deuses do Olimpo, pois, para ele se os deuses existissem, eles teriam mais com o que se preocupar em vez de criarem métodos de sofrimento para as pessoas.
Influenciado pelo epicurismo, o filósofo Carnéades, de Cirene (214 – 129 a.c.) chegou a dizer abertamente em público que os deuses não existiam. Na ocasião ele estava em Roma, enviado com mais dois outros filósofos para representar Atenas na cidade. A declaração do pensador foi durante uma conferência no senado romano e é considerada a primeira manifestação pública de ateísmo filosófico.
Na Grécia, quem difundiu as idéias da ausência de deus foi o filosofo nascido na ilha de Samos em 341 a.c., Epicuro. Mesmo não sendo propriamente um ateu, levantou a questões de que os deuses nada mais são do que simples analogias das qualidades humanas. Durante seus estudos, Epicuro indagou a relação das pessoas com os deuses do Olimpo, pois, para ele se os deuses existissem, eles teriam mais com o que se preocupar em vez de criarem métodos de sofrimento para as pessoas.
Influenciado pelo epicurismo, o filósofo Carnéades, de Cirene (214 – 129 a.c.) chegou a dizer abertamente em público que os deuses não existiam. Na ocasião ele estava em Roma, enviado com mais dois outros filósofos para representar Atenas na cidade. A declaração do pensador foi durante uma conferência no senado romano e é considerada a primeira manifestação pública de ateísmo filosófico.
terça-feira, 19 de julho de 2011
Carl Sagan
"Mesmo num exame superficial da História revela que nós, seres humanos, temos uma triste tendência para cometer os mesmos erros repetidas vezes. Temos medo dos desconhecidos ou de qualquer pessoa que seja um pouco diferente de nós. Quando ficamos assustados, começamos a ser agressivos para as pessoas que nos rodeiam. Temos botões de fácil acesso que, quando carregamos neles, libertam emoções poderosas. Podemos ser manipulados até extremos de insensatez por políticos espertos. Dêem-nos o tipo de chefe certo e, tal como o mais sugestionável paciente do terapeuta pela hipnose, faremos de bom grado quase tudo o que ele quer - mesmo coisas que sabemos serem erradas." Carl Sagan
segunda-feira, 18 de julho de 2011
Albert Einstein
” a palavra de deus é para mim nada mais do que a expressão e o produto da fraqueza humana, a bíblia é uma coleção de lendas veneráveis,mas ainda assim primitivas e considerávelmente infantis” albert einstein em uma carta a eric gutkind
domingo, 17 de julho de 2011
sexta-feira, 8 de julho de 2011
BERTRAND RUSSELL
Bertrand Arthur William Russell, 3º Conde Russell (Ravenscroft, País de Gales, 18 de Maio de 1872 — Penrhyndeudraeth, País de Gales, 2 de Fevereiro de 1970) foi um dos mais influentes matemáticos, filósofos e lógicos que viveram no século XX.
quarta-feira, 6 de julho de 2011
O falsificacionismo de Karl Popper
1. Indução
Uma linha de resposta bastante diferente para o problema da indução deve-se a Karl Popper. Popper olha para a prática da ciência para nos mostrar como lidar com o problema. Segundo o ponto de vista de Popper, para começar a ciência não se baseia na indução. Popper nega que os cientistas começam com observações e inferem depois uma teoria geral. Em vez disso, primeiro propõem uma teoria, apresentando-a como uma conjectura inicialmente não corroborada, e depois comparam as suas previsões com observações para ver se ela resiste aos testes. Se esses testes se mostrarem negativos, então a teoria será experimentalmente falsificada e os cientistas irão procurar uma nova alternativa. Se, pelo contrário, os testes estiverem de acordo com a teoria, então os cientistas continuarão a mantê-la não como uma verdade provada, é certo, mas ainda assim como uma conjectura não refutada.
Se olharmos para a ciência desta maneira, defende Popper, então veremos que ela não precisa da indução. Segundo Popper, as inferências que interessam para a ciência são refutações, que tomam uma previsão falhada como premissa e concluem que a teoria que está por detrás da previsão é falsa. Estas inferências não são indutivas, mas dedutivas. Vemos que um A é não-B, e concluímos que não é o caso que todos os As são Bs. Aqui não há hipótese de a premissa ser verdadeira e a conclusão falsa. Se descobrirmos que um certo pedaço de sódio não fica laranja quando é aquecido, então sabemos de certeza que não é o caso que todo o sódio aquecido fica laranja. Aqui o facto interessante é que é muito mais fácil refutar teorias do que prová-las. Um único exemplo contrário é suficiente para uma refutação conclusiva, mas nenhum número de exemplos favoráveis constituirá uma prova conclusiva.
2. Falsificabilidade
Assim, segundo Popper, a ciência é uma sequência de conjecturas. As teorias científicas são propostas como hipóteses, e são substituídas por novas hipóteses quando são falsificadas. No entanto, esta maneira de ver a ciência suscita uma questão óbvia: se as teorias científicas são sempre conjecturais, então o que torna a ciência melhor do que a astrologia, a adoração de espíritos ou qualquer outra forma de superstição sem fundamento? Um não-popperiano responderia a esta questão dizendo que a verdadeira ciência prova aquilo que afirma, enquanto que a superstição consiste apenas em palpites. Mas, segundo a concepção de Popper, mesmo as teorias científicas são palpites — pois não podem ser provadas pelas observações: são apenas conjecturas não refutadas.
Popper chama a isto o "problema da demarcação" — qual é a diferença entre a ciência e outras formas de crença? A sua resposta é que a ciência, ao contrário da superstição, pelo menos é falsificável, mesmo que não possa ser provada. As teorias científicas estão formuladas em termos precisos, e por isso conduzem a previsões definidas. As leis de Newton, por exemplo, dizem-nos exactamente onde certos planetas aparecerão em certos momentos. E isto significa que, se tais previsões fracassarem, poderemos ter a certeza de que a teoria que está por detrás delas é falsa. Pelo contrário, os sistemas de crenças como a astrologia são irremediavelmente vagos, de tal maneira que se torna impossível mostrar que estão claramente errados. A astrologia pode prever que os escorpiões irão prosperar nas suas relações pessoais à quinta-feira, mas, quando são confrontados com um escorpião cuja mulher o abandonou numa quinta-feira, é natural que os defensores da astrologia respondam que, considerando todas as coisas, o fim do casamento provavelmente acabou por ser melhor. Por causa disto, nada forçará alguma vez os astrólogos a admitir que a sua teoria está errada. A teoria apresenta-se em termos tão imprecisos que nenhumas observações actuais poderão falsificá-la.
3. Ciência e pseudociência
O próprio Popper usa este critério de falsificabilidade para distinguir a ciência genuína não só de sistemas de crenças tadicionais, como a astrologia e a adoração de espíritos, mas também do marxismo, da psicanálise de várias outras disciplinas modernas que ele considera negativamente como "pseudo-ciências". Segundo Popper, as teses centrais dessas teorias são tão irrefutáveis como as da astrologia. Os marxistas prevêm que as revoluções proletárias serão bem sucedidas quando os regimes capitalistas estiverem suficientemente enfraquecidos pelas suas contradições internas. Mas, quando são confrontados com revoluções proletárias fracassadas, respondem simplesmente que as contradições desses regimes capitalistas particulares ainda não os enfraqueceram suficientemente. De maneira semelhante, os teóricos psicanalistas defendem que todas as neuroses adultas se devem a traumas de infância, mas quando são confrontados com adultos perturbados que aparentemente tiveram uma infância normal dizem que ainda assim esses adultos tiveram que atravessar traumas psicológicos privados quando eram novos. Para Popper, estes truques são a antítese da seriedade científica. Os cientistas genuínos dirão de antemão que descobertas observacionais os fariam mudar de ideias, e abandonarão as suas teorias se essas descobertas se realizarem. Mas os teóricos marxistas e psicanalistas apresentam as suas ideias de tal maneira, defende Popper, que nenhumas observações possíveis os farão alguma vez modificar o seu pensamento.
David Papineau
"Methodology" em A. C. Grayling (org.), Philosophy: A Guide Through the Subject, Oxford University Press, 1998
Tradução de Pedro Galvão
sábado, 2 de julho de 2011
sexta-feira, 1 de julho de 2011
domingo, 12 de junho de 2011
Entrevista: Psicólogo Evolucionista Geoffrey Miller / Tudo Por Sexo
O pisicólogo evolutivo Geoffrey Miller diz que a cultura humana surgiu da nossa necessidade de atrair parceiros sexuais
O que há em comum no desejo de ganhar um salário maior ou de escrever uma poesia? Para Geoffrey Miller, especialista em psicologia evolutiva e autor do livro A Mente Seletiva (Editora Campus), a resposta está no sexo. Isso mesmo. A necessidade de tornar-se mais atrativo sexualmente seria a chave para compreender até o surgimento da sofisticada cultura humana.
Partindo do princípio de que a reprodução é o instinto básico em todos os seres, Miller acredita que a mente desenvolveu, durante a evolução, diferentes "estratégias reprodutivas". Se os homens pré-históricos precisavam caçar animais para atrair suas parceiras, os modernos Homo sapiens compram iates ou escrevem sinfonias. A evolução também explicaria, por exemplo, por que os homens seriam mais promíscuos que as mulheres quanto ao sexo. "São diferentes estratégias reprodutivas", diz Miller. "Enquanto as mulheres normalmente estão mais interessadas na qualidade de seus parceiros (segundo ele, pela necessidade de criar seus filhos), os homens geralmente são menos exigentes na escolha de quem levar para cama." Antes de ser acusado de usar a ciência em prol do machismo, ele diz que essa situação muda quando o homem escolhe a mãe de seus filhos. "Aí ele se torna tão exigente quanto as mulheres", diz Miller, que conversou com a Super sobre seu trabalho.
Super – O que é a psicologia evolutiva?
Ela tenta entender a natureza humana perguntando como nossos ancestrais sobreviveram e se reproduziram. Quanto melhor nós entendermos nossa evolução, melhor nós entenderemos nossos cérebros, nossas mentes e o comportamento moderno. A psicologia evolutiva procura compreender, por exemplo, por que buscamos status, achamos alguém sexualmente atraente, fazemos amigos, fofocamos e outras respostas para perguntas que tradicionalmente foram negligenciadas pela psicologia. O que estamos compreendendo agora é que boa parte do nosso comportamento é produzido por circuitos do cérebro que evoluíram, originalmente, para que os nossos ancestrais se tornassem sexualmente atrativos.
Ou seja, tudo tem uma base sexual?
Os comportamentos humanos evoluíram, sim, devido ao sexo. Mas isso não significa que hoje eles tenham uma conotação sexual. Os pássaros não cantam apenas para o acasalamento, mesmo que essa habilidade tenha tido originalmente essa função. Não deve ser à toa que nos interessamos por música, dança e humor depois da puberdade, no momento exato em que começamos a estar predispostos a atrair parceiros sexuais.
Em seu livro A Mente Seletiva, o senhor também trata das diferenças entre homens e mulheres quanto ao comportamento sexual.
Enfoco as semelhanças entre homens e mulheres, enquanto outros psicólogos evolucionistas normalmente prestam atenção nas diferenças. As diferenças são importantes, mas podem ser exageradas. Homens podem potencialmente ter muitos filhos com muitas mulheres. Mulheres podem somente ter, no máximo, cerca de uma dezena de filhos. Isso faria, portanto, que elas sejam mais interessadas na qualidade dos seus parceiros que na quantidade. Mas apesar de os homens, em geral, serem menos exigentes na escolha de suas parceiras, isso muda quando ele tem que escolher alguém com quem viver por muito tempo. Tornam-se quase tão exigentes quanto as mulheres. Isso não é comum na natureza, onde apenas a fêmea costuma ser exigente e o macho acasala com todas as fêmeas que pode conseguir.
O que torna uma pessoa interessante ou sexualmente atrativa?
Quando se trata de apaixonar-se, há muitas evidências de que nós nos importamos muito com a inteligência, a amabilidade, a criatividade e o senso de humor. Enquanto os animais focam basicamente a aparência física e um ritual de cortejo mais simples, estamos interessados também nos pensamentos e sentimentos dos nossos parceiros. É por isso que a seleção sexual gerou os pensamentos e sentimentos humanos. Preocupa-nos muito, por exemplo, se alguém é interessante para conversar. A maioria do cortejo humano é verbal, e eu calculo que os amantes trocam, em média, cerca de 1 milhão de palavras antes de manter relações sexuais que acabem em gravidez. Isso deu à seleção sexual enorme poder para formar a linguagem humana e qualquer outro meio para expressar emoções.
Além da linguagem, a "seleção sexual" também teria importante papel no desenvolvimento das artes plásticas, da música e da literatura?
Foi por isso que escrevi A Mente Seletiva. Acho que é importante reconhecer que todas essas manifestações do comportamento humano são relacionadas com exibir-se, como formas de conquistar status social e de atrair parceiros. Daí meu argumento de que tudo isso evoluiu, em parte, por conta da seleção sexual. Isso parece razoável porque a maioria das características mais bonitas e impressionantes dos seres vivos – as flores, a cauda do pavão, o som dos rouxinóis – é também fruto da seleção sexual. A teoria da seleção sexual diz que somos atraídos pelos trabalhos artísticos mais difíceis e custosos de fazer, em termos de tempo, energia e capacidade. Acredito que isso define boa parte das nossas preferências estéticas. Nosso senso de belo na arte evoluiu para que pudéssemos escolher os artistas mais talentosos como parceiros sexuais. Há exemplos disso acontecendo em outras espécies. Há pássaros na Austrália que constroem ninhos com pedras e conchas. As fêmeas passam, fazem uma inspeção de cada ninho e acasalam com o macho que construiu o ninho mais bonito. Assim, os genes para construir ninhos bonitos espalharam-se através dessa espécie de pássaros. Meu livro tenta entender como algumas das aptidões que mais valorizamos, como a arte, surgiram de maneira similar.
O que, no comportamento humano, poderia ser determinado pela seleção sexual?
A seleção sexual determinou nossa necessidade de status, prestígio e respeito social. Status não é tão útil para a sobrevivência, mas é muito importante para a reprodução. Quando competimos no local de trabalho, nós estamos buscando status do mesmo jeito que nossos ancestrais tentaram alcançar status sendo bons caçadores ou contadores de histórias. Ou seja: estamos sempre atuando para impressionar e atrair parceiros sexuais. Nossa cultura não está separada da nossa evolução biológica.
O senhor acredita que sua teoria poderia ajudar outras ciências humanas. Para a economia, por exemplo, qual seria a contribuição dela?
Muitos aspectos importantes da economia não são explicados muito bem pelos economistas. Eles não conseguiram explicar, por exemplo, por que compramos artigos de luxo ou por que trabalhamos para ganhar mais do que precisamos para sobreviver. Todos esses fenômenos são resultado da seleção sexual. Em economias modernas, nós não adquirimos status caçando animais ou alegando ter poderes espirituais, mas por meio da ascensão profissional. Isso explica, também, por que os homens são mais ambiciosos financeiramente que as mulheres – afinal, eles são propensos a ter mais parceiras. Nós não somos conscientes de tudo isso, claro, mas a maioria de nós se comporta exatamente de acordo com a teoria de Darwin.
Se sua teoria baseia-se no instinto de reprodução, como o senhor explicaria a homossexualidade?
Eu não tenho uma explicação para a homossexualidade. Ela ainda é um mistério do ponto de vista evolutivo e, até onde eu sei, ninguém tem uma explicação satisfatória.
• Professor Assistente de Psicologia Evolutiva da Universidade do Novo México, em Albuquerque, Estados Unidos.
• Tem 37 anos, é autor do livro A Mente Seletiva, em que propõe que a cultura humana surgiu da necessidade que temos de atrair parceiros sexuais. Fonte Revista Superinteressante
EPICURO FILÓSOFO GREGO
“Deus deseja prevenir o mal, mas não é capaz? Então não é onipotente. É capaz, mas não deseja? Então é malevolente. É capaz e deseja? Então por que o mal existe? Não é capaz e nem deseja? Então por que lhe chamamos Deus?”
sexta-feira, 10 de junho de 2011
Nietzsche
"Por que haverá alguém de envergonhar-se de seu corpo quando este é perfeitamente sadio e capaz de desempenhar as suas funções? Não seria verdade, porventura, que uns poucos neuróticos tivessem primeiro concebido a doutrina do pecado original para justificar as próprias neuroses e que todas as gerações subsequentes de homens normais tivessem seguido pensadores anormais como estúpidos carneiros? Não era a nossa moralidade uma fraude? Não era a felicidade o desígnio da vida? A religião, longe de ser uma aceitação é uma negação da vida." Friedrich Nietzsche
terça-feira, 31 de maio de 2011
MIKHAIL BAKUNIN: Sociólogo e Filósofo Russo (1814/1876 )
“Estamos convencidos de que o pior mal, tanto para a humanidade quanto para a verdade e o progresso, é a Igreja. Poderia ser de outra forma? Pois não cabe à Igreja a tarefa de perverter as gerações mais novas e especialmente as mulheres? Não é ela que, através de seus dogmas, suas mentiras, sua estupidez e sua ignomínia tenta destruir o pensamento lógico e a ciência? Não é ela que ameaça a dignidade do homem, pervertendo suas ideias sobre o que é bom e o que é justo? Não é ela que transforma os vivos em cadáveres, despreza a liberdade e prega a eterna escravidão das massas em benefício dos tiranos e dos exploradores? Não é essa mesma Igreja implacável que procura perpetuar o reino das sombras, da ignorância, da pobreza e do crime? Se não quisermos que o progresso seja, em nosso século, um sonho mentiroso, devemos acabar com a Igreja.”
— Mikhail Bakunin
sexta-feira, 27 de maio de 2011
quarta-feira, 18 de maio de 2011
terça-feira, 17 de maio de 2011
BERTRAND RUSSELL
“As pessoas dirão que, sem os consolos da religião, elas seriam intoleravelmente infelizes. Tanto quanto este argumento é verdadeiro, também é covarde. Ninguém senão um covarde escolheria conscientemente viver no paraíso dos tolos. Quando um homem suspeita da infidelidade de sua esposa, não lhe dizem que é melhor fechar os olhos à evidência. Não consigo ver a razão pela qual ignorar as evidências deveria ser desprezível em um caso e admirável no outro.”
— Bertrand Russell
— Bertrand Russell
sábado, 14 de maio de 2011
” Não acreditar em deus é um atalho para a felicidade” Sam Harris
Em novo livro, o filósofo e neurocientista americano sam harris propõe a criação de uma ‘ciência da moralidade’ para acabar de uma vez por todas com a influência da religião. marco túlio pires
“A tolerância à intolerância nada mais é do que covardia”
“Na ciência não existem dogmas. Qualquer afirmação pode ser contestada de maneira sensata e honesta”
“O Papa é culpável pelo escândalo do estupro infantil dentro da Igreja Católica” Sam Harris
Neurocientista Sam Harris |
Quando o filósofo americano Sam Harris soube que o atentado ao World Trade Center em Nova York (Estados Unidos), no dia 11 de setembro de 2001, teve motivações religiosas, a briga passou a ser pessoal. Harris publicou em 2004 o livro A Morte da Fé (Companhia das Letras) — uma brutal investida contra as religiões, segundo ele, responsáveis pelo sofrimento desnecessário de milhões. Para Harris, os únicos anjos que deveríamos invocar são a ‘razão’, a ‘honestidade’ e o ‘amor’.
“A Ciência é capaz de dizer o que é certo e o que é errado”, diz Sam Harris
Ao entrar de cabeça em um assunto tão delicado, o filósofo de 43 anos conquistou uma legião de inimigos e deu início a uma espécie de combate literário. Em resposta à repercussão de seu primeiro livro, que levou à publicação de livros-resposta sob as perspectivas muçulmana, católica e outras, os ataques de Harris à fé religiosa continuaram em 2006, com o lançamento do livro Carta a Uma Nação Cristã (Companhia das Letras).
Criado em um lar secular, que nunca discutiu a existência de Deus e nunca criticou outras religiões, Harris recebeu o título de Doutor em Neurociência em 2009 pela Universidade da Califórnia (Estados Unidos). A pesquisa de doutorado serviu como base para seu terceiro livro, lançado em outubro de 2010: The Moral Landscape (sem edição brasileira). Nele, Harris conquista novos inimigos, dessa vez cientistas.
Agora, Harris tenta utilizar a razão e a investigação científica para resolver problemas morais, sugerindo a criação do que ele chama de “ciência da moralidade”. Ele afirma que o bem-estar humano está relacionado a estados mentais mensuráveis pela neurociência e, por isso, seria possível investigar a felicidade humana sob essa ótica — algo com que a maioria dos cientistas está longe de concordar.
A ciência da moralidade substituiria a religião no papel de dizer o que é bom ou mau. Esse ‘novo ateísmo’ rendeu a Harris e outros três autores proeminentes — Daniel Dennet, Richard Dawkins e Christopher Hitchens — o título de ‘Cavaleiros do Apocalipse’.
Em entrevista ao site de VEJA, Harris explica os pontos mais sensíveis de sua argumentação, e afirma que descrer de Deus é um atalho para a felicidade.
Por que a moralidade e as definições do bem e do mal não deveriam ser deixadas para a religião?
O problema com relação à Religião é que ela dissocia as questões do bem e do mal da questão do bem-estar. Por isso, a religião ignora o sofrimento em certas situações, e em outras chega a incentivá-lo. Deixe-me dar um exemplo. Ao se opor aos métodos contraceptivos, a doutrina da Igreja Católica causa sofrimento. É coerente com seus dogmas, embora eles levem crianças a nascerem na pobreza extrema e pessoas a serem infectadas pela aids, por fazerem sexo sem camisinha. Através das eras, os dogmas contribuíram para a miséria humana de maneira tremenda e desnecessária.
Nem toda moralidade é baseada em religião. Existe uma longa tradição de pensamento moral secular por meio da filosofia. O que há de errado com essa tradição?
Não há nada de errado com ela a não ser o fato de que a maior parte das discussões filosóficas seculares são confusas e irrelevantes para as questões importantes na vida humana. Deveria ser consenso o apreço ao bem-estar humano. Se alguma coisa é má, é porque ela causa um grande e desnecessário sofrimento ou impede a felicidade das pessoas. Se alguma coisa é boa, é porque ela faz o contrário. Mas existem filósofos seculares batendo cabeça em debates entediantes, dizendo que não podemos falar de verdade moral. Segundo eles, cada cultura deve ser livre para inventar seus ideais morais sem ser perturbado por outros. Isso é loucura. Hoje reconhecemos que a escravidão, que era praticada por muitas culturas, era fonte de sofrimento. Nesse caso, deixamos para trás o relativismo. Por que não podemos fazer o mesmo em outros casos?
Você parece sugerir que a tolerância a outros credos não é uma virtude, como a maioria pensa. Por quê?
É um posicionamento inicial muito bom. A tolerância é a inclinação para evitar conflito com outras pessoas. É como queremos que a maioria se comporte a maior parte do tempo quando se depara com diferenças culturais. Mas quando as diferenças se tornam extremas e a disparidade na sabedoria moral se torna incrivelmente óbvia, então, a tolerância não é mais uma opção. A tolerância à intolerância nada mais é do que covardia. Não podemos tolerar uma jihad global. A ideia de que se pode chegar ao paraíso explodindo pessoas inocentes não é um arranjo tolerável. Temos que combater essas coisas por meio da intolerância às pessoas que estão comprometidas com essa ideologia. Não acredito que seria possível sentar à mesa com, por exemplo, Osama Bin Laden e convencê-lo que a forma como ele enxerga o mundo é errada.
Por que a ciência deveria ditar o que é certo e o que é errado?
Temos que reconhecer que as questões morais possuem respostas corretas. Se o bem-estar humano surge a partir de certas causas, inclusive neurológicas, quer dizer que existem formas certas e erradas para procurar a felicidade e evitar a infelicidade. E se as respostas corretas existem, elas podem ser investigadas pela ciência. Chamo de ciência o nosso melhor esforço em fazer afirmativas honestas sobre a natureza do mundo, tendo como base a razão e as evidências.
O que é a ciência da moralidade e o que ela quer conquistar?
É a ciência da mente humana e das variáveis que afetam a nossa experiência do mundo para o bem ou para o mal. Ela pretende discutir, por exemplo, o que acontece com mulheres e garotas que são forçadas a utilizarem a burca [vestimenta muçulmana que cobre todo o corpo da mulher]. São efeitos neurológicos, psicológicos, sociológicos que afetam o bem-estar dos seres humanos. Com a burca, sabemos que é ruim para as mulheres e para a sociedade. Se metade de uma sociedade é forçada a ser analfabeta e economicamente improdutiva, mas ter quantos filhos conseguir, fica óbvio que essa é uma estratégia ruim para construir uma população que prospera. O objetivo é entender o bem-estar humano. Assim como queremos fazer convergir os princípios do conhecimento, queremos que as pessoas sejam racionais, que avaliem as evidências, que sejam intelectualmente honestas e que não sejam guiadas por ilusões. A Ciência da Moralidade pretende aumentar as possibilidades da felicidade humana.
O senhor afirma que há um muro dividindo a ciência e a moralidade. No que ele consiste?
Existem razões boas e ruins para a existência desse muro. A boa é que os cientistas reconhecem que os elementos relevantes ao bem-estar humano são extremamente complicados. Sabemos muito pouco sobre o cérebro, por exemplo, para entender todos os aspectos da mente humana. A ciência espera um dia responder essas questões e isso é muito bom. A razão ruim é que muitos cientistas foram confundidos pela filosofia a pensar que a ciência é um espaço sem valores. E a moralidade está, por definição, na seara dos valores. Esse muro não será destruído enquanto não admitirmos que a moralidade está relacionada à experiência humana, que por sua vez está relacionada com o cérebro e com a forma pela qual o universo se apresenta. Ou seja, por elementos que podem ser investigados pela ciência.
Quais avanços científicos lhe fazem pensar que, agora, a moralidade pode ser tratada a partir do ponto de vista do laboratório?
Temos condição de dizer quando uma pessoa está olhando para um rosto, ou uma casa, ou um animal, ou quais palavras ela está pensando dentro de uma lista. Esse nível cru de diferenciação de estados mentais está definitivamente ao alcance da ciência. Sabemos quando uma pessoa está sentindo medo ou amor. Por causa disso podemos, em princípio, pegar uma pessoa que diz não ser racista, colocá-la em um medidor e verificar se ela está falando a verdade. Não apenas isso, podemos descobrir se ela está mentindo para si mesma ou para as outras pessoas. A tecnologia já chegou a esse nível, mas não conseguimos ler a mente das pessoas com detalhes. É possível que futuramente possamos descobrir coisas sobre a nossa subjetividade de que não temos consciência, utilizando experimentos científicos. E isso tudo se relaciona ao bem-estar humano e o modo como as pessoas ficam felizes e como poderemos viver juntos para maximizar a possibilidade de ter vidas que valham a pena.
Por que deveríamos confiar a educação dos nossos filhos aos valores científicos?
Os cientistas não se transformariam, com o tempo, em algo como padres, mas com uma ‘batina’ diferente? Cientistas não são padres. Os médicos, por exemplo, agem sob o pensamento da medicina, que, como fonte de autoridade, não se tornou arrogante ou limitou a liberdade das pessoas de maneira assustadora. É uma disciplina que está concentrada em entender a vida humana e minimizar o sofrimento físico. Seu médico nunca vai até você ‘pregar’ sobre os preceitos da ciência, você vai até ele quando precisa. Pais que se deixam guiar por dogmas religiosos não dão remédios aos filhos e os deixam morrer. Na ciência não existem dogmas. Qualquer afirmação pode ser contestada de maneira sensata e honesta.
O que dizer dos experimentos neurológicos que sugerem que a crença religiosa está embutida nos nossos cérebros?
Não acho que a crença religiosa esteja embutida no cérebro humano. Mas digamos que esteja. Façamos um paralelo com a bruxaria. Pode ser que a crença em bruxaria estivesse embutida em nossos cérebros. A bruxaria matou muitos seres humanos, assim como a religião. Todas as culturas tradicionais acreditaram em algum momento em bruxas e no poder de magia e, na verdade, a crença na reza possui um conceito semelhante. Algumas pessoas dizem que sempre acreditaremos em bruxas, que a saúde humana será afetada pela ‘magia’ de vizinhos. Na África, muitas pessoas realmente acreditam em bruxaria e isso é terrível porque causa sofrimento desnecessário. Quando não se entende porque as pessoas ficam doentes, ou porque as crianças morrem antes dos três anos, você está num estado de ignorância que a crença em bruxaria está suprindo uma necessidade de maneira nociva. Superamos isso no mundo desenvolvido por causa do avanço da Ciência. Sabemos como a agricultura é afetada, por exemplo. Entendemos os fenômenos meteorológicos e a biologia das plantas. Não é algo que a religião resolve, e sim a ciência. Mas costumava ser assim. A crença na regência de um deus sobre a lavoura era universal.
As pessoas deveriam parar de acreditar em Deus?
Se eu acho que as pessoas deveriam parar de acreditar no Deus da Bíblia? Com certeza. Da mesma forma que as pessoas pararam de acreditar em Zeus, em Thor e milhares de deuses mortos. O Deus da Bíblia tem exatamente o mesmo status desses deuses mortos. É um acidente histórico estarmos falando dele e não de Zeus. Poderíamos estar vivendo num mundo onde os suicidas muçulmanos se explodiriam por causa de ideias dos deuses do Monte Olimpo. A diferença entre xiitas e sunitas muçulmanos é a mesma diferença entre seguidores de Apolo e seguidores de Dionísio.
O senhor sempre foi ateu?
Nunca me considerei um ateu, nem mesmo ao escrever meu primeiro livro. Todos somos ateus em relação a Zeus e Thor. Eu era um ateu em relação a eles e ao deus de Abraão. Mas nunca me considerei um ateu, como a maioria das pessoas não se considera pagã em relação aos deuses do Monte Olimpo. Foi no 11 de setembro de 2001, dia do atentado ao World Trade Center em Nova York, que senti que criticar a religião publicamente havia se tornado uma necessidade moral e intelectual. Antes disso eu era apenas um descrente. Eu nunca havia lido livros ateus, ou tivera qualquer conexão com a comunidade ateísta. O ateísmo não é um conceito que considere interessante ou útil. Temos que falar sobre razão, evidências, verdade, honestidade intelectual — todas essas coisas são virtudes que nos deram a ciência e todo tipo de comportamento pacífico e cooperativo. Não é preciso dizer que você é contra algo para advogar em favor da honestidade intelectual. Foi justamente isso que destruiu os dogmas religiosos.
O senhor cresceu em um ambiente religioso?
Cresci em um ambiente completamente secular, mas não havia crítica às religiões ou discussões sobre ateísmo, existência de Deus etc. Quando era adolescente, fiquei muito interessado em religiões e experiências religiosas. Coisas como meditação, por exemplo. Aos vinte, comecei a estudar espiritualidade e misticismo. Ainda me interesso por essas coisas, mas acho que, para experimentar, não precisamos acreditar em nada que não possua evidencias suficientes.
Como o senhor se sente em ser rotulado como um dos ‘Quatro Cavaleiros do Apocalipse’?
Estou muito feliz com a companhia! É uma honra. A associação não me desagrada de forma alguma. Acho que os quatro lucraram por terem sido reunidos e tratados como uma pessoa de quatro cabeças. Em alguns momentos é um desserviço porque nossos argumentos não são exatamente os mesmos e não acreditamos nas mesmas coisas em todos os pontos. Mas tem sido útil sob o ponto de vista das publicações e admiro muito os outros cavaleiros — os considero mentores e amigos. A parte do apocalipse tem um efeito cômico.
Se o senhor tivesse a chance de se encontrar com o Papa para um longo e honesto bate-papo, qual seria sua primeira pergunta?
Gostaria de falar imediatamente sobre o escândalo do estupro infantil dentro da Igreja Católica. Acho que o Papa é culpável por tudo que aconteceu. A evidência nesse momento sugere que ele estava entre as pessoas que conseguiram fazer prolongar o sofrimento de crianças por muitos anos. Acho que ele trabalhou ativamente para proteger a Igreja do constrangimento e no processo conseguiu garantir que os estupradores tivessem acesso às crianças por décadas além do que deveria ter sido. O Papa deveria ser diretamente desafiado por causa disso. Contudo, é algo que seu status como líder religioso impede que aconteça. Ele nunca seria protegido dessa forma se ele estivesse em qualquer outra posição na sociedade. Imagine o que aconteceria se descobrissem que o reitor da Universidade de Harvard [uma das universidades americanas mais respeitadas do mundo] tivesse permitido que empregados da universidade estuprassem crianças por décadas e ele tivesse mudado essas pessoas de departamento para protegê-las da justiça secular? Ele estaria na cadeia agora. E isso é impensável quando se fala do Papa. Isso acontece por que nos ensinaram a tratar a religião com deferência.
Fonte : Site Revista Veja
quarta-feira, 11 de maio de 2011
Árvore Filogenética da Evolução do Homem
Note-se que o chimpanzé não se configura como descendente do homem, mas ambos têm ancestrais comuns.
segunda-feira, 9 de maio de 2011
quinta-feira, 5 de maio de 2011
SELEÇÃO NATURAL CÓSMICA
Físico aplica a teoria da seleção natural para tentar explicar a origem do Universo.
O Universo Fértil ou também chamada Seleção Natural Cósmica é uma idéia desenvolvida por Lee Smolin, físico norte americano, que sugere que as regras da Biologia se aplicam também ao universo em grande escala. Segundo essa teoria buracos negros podem gerar um novo universo em outra região do Multiverso e que esse novo universo pode possuir propriedades parecidas com às do universo que o criou, como uma forma de "herança genética". Os universos bebês por sua vez poderiam ou não produzir buracos negros que também criariam outros universos... quanto mais buracos negros um universo produzir tantos mais "filhos" ele terá, por outro lado universos pobres de buracos negros teriam poucos "filhos" antes de sofrer uma "morte térmica" e outros até atingiriam a morte térmica sem ter "gerado" nenhum universo. Por esse processo podemos
vislumbrar um multiverso repleto de universos com buracos negros e poucos sem eles. Isso é uma
forma de seleção natural. Essa teoria é interessante por ajudar a responder porque nosso universo é do jeito que é - estudando a origem, a formação e o desenvolvimento do nosso
universo parece haver uma "conspiração cósmica" para criar um mundo capaz de produzir vida, e
talvez, vida inteligente. Com a nova abordagem, que é altamente especulativa, que fique claro, o
universo em que vivemos não é "especialmente projetado" para nos abrigar, ele é somente mais
um entre tantos outros que, por suas propriedades, pode produzir buracos negros, muitos deles... e essas mesmas propriedades são as que permitem a formação de sistemas estelares, planetas sólidos, água, complexas moléculas orgânicas e finalmente vida. O que diriam os "pais" da seleção natural, Darwin e Wallace, dessa extrapolação ?
vislumbrar um multiverso repleto de universos com buracos negros e poucos sem eles. Isso é uma
forma de seleção natural. Essa teoria é interessante por ajudar a responder porque nosso universo é do jeito que é - estudando a origem, a formação e o desenvolvimento do nosso
universo parece haver uma "conspiração cósmica" para criar um mundo capaz de produzir vida, e
talvez, vida inteligente. Com a nova abordagem, que é altamente especulativa, que fique claro, o
universo em que vivemos não é "especialmente projetado" para nos abrigar, ele é somente mais
um entre tantos outros que, por suas propriedades, pode produzir buracos negros, muitos deles... e essas mesmas propriedades são as que permitem a formação de sistemas estelares, planetas sólidos, água, complexas moléculas orgânicas e finalmente vida. O que diriam os "pais" da seleção natural, Darwin e Wallace, dessa extrapolação ?
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